São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Data marca também mudança de estilo

JAIME SPITZCOVSKY
GILSON SCHWARTZ

JAIME SPITZCOVSKY; GILSON SCHWARTZ
DE PEQUIM

Futebol e chá continuam atestando a presença britânica, mas comunistas tentam dar seu toque a Hong Kong

Os "chineses do continente" estão chegando e, com eles, Hong Kong recebe novas modas, novas manias e novos símbolos de prestígio social. A herança britânica, embora mais pálida por causa do fim do colonialismo, não vai desaparecer, e o território manterá influências da antiga metrópole.
Isso transparece, por exemplo, no esporte. A seleção da China passa a ser ainda mais prestigiada, mas o fraco campeonato chinês não deve se tornar mais popular do que o torneio da liga inglesa.
Na China, a febre futebolística engole o país, levando o futebol a desbancar o tênis de mesa como o esporte mais popular.
O rúgbi, outra influência britânica, se modela aos novos tempos. A Federação de Hong Kong elegeu na semana passada, pela primeira vez em sua história, um chinês para ser seu secretário.
O Real Iate Clube de Hong Kong, famoso por suas inclinações monarquistas, encontrou uma maneira original de driblar a avalanche que busca apagar a palavra "real" das instituições de Hong Kong. Decidiu remar contra a maré, manter o título e tirá-lo apenas do seu nome em chinês.
Já o Jóquei Clube, a Sociedade de Prevenção de Crueldades Contra Animais e o Clube de Golfe eliminaram o adjetivo "real".
Mas traços da monarquia britânica vão sobreviver ainda nas denominações de ruas e outros locais públicos. Dos 28 governadores coloniais, apenas um não virou nome de rua: o atual, Chris Patten. Mas Pottinger, Kennedy, Bowen e Robinson, que governaram o território no passado colonial, emprestam seus nomes a ruas de Hong Kong.
O parque Vitória, alusão à soberana britânica da virada do século, vai ter outro nome, num raro exemplo de eliminação de vestígios coloniais na geografia da cidade. Passará a se chamar parque Central.
Os parques de Hong Kong também vão servir como lembrança da administração do Reino Unido. Os jardins costumam exibir um estilo inglês e, segundo admiradores incondicionais da monarquia britânica, "até a maneira de cortar a grama, à inglesa, é diferente da forma aplicada na China".
Fidelidade real à parte, sobrevivem em Hong Kong tradições trazidas de Londres, como o chá da tarde. Um dos mais concorridos do território é o organizado pelo sofisticado hotel Península, que oferece chás e doces preparados de acordo com receitas saídas de livros de culinária britânica.
A bandeira chinesa, cinco estrelas douradas sobre um fundo vermelho, também tremulará em mastros antes dominados pela bandeira britânica. O símbolo do regime comunista vai dividir a paisagem de Hong Kong com legados da arquitetura trazida pelos ingleses, como a catedral de Saint John, construída há cerca de 150 anos.
As lojas de decoração também, indicam novas tendências. Retratos da rainha Elizabeth 2ª desaparecem das sugestões de decoradores, que recorrem agora, com mais frequência, a fontes e espelhos. Dizem eles que o "novo gosto chinês" privilegia essas peças.
(JAIME SPITZCOVSKY E GILSON SCHWARTZ)

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