São Paulo, domingo, 29 de junho de 1997
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Omissão da Funai; Comparação; Controle por decreto; Uso da máquina; Assim é fácil; Especialização; Alta tecnologia; Detalhe insignificante; Bom senso

Omissão da Funai
"Tomamos conhecimento por meio da imprensa (Folha, 9/2, e 'Correio Braziliense' de 12/6) que a pesquisa coordenada pelo dr. Ricardo Ishak, da Universidade Federal do Pará, detectou o HTLV (considerado um 'primo' do vírus da Aids) nas seis aldeias caiapós pesquisadas, sendo que o nível de contaminação é de 20% a 41,2%.
Ficamos surpresos e preocupados com a notícia de que grande parte de nosso povo está contaminada por uma doença que desconhecemos.
A Funai até hoje não tomou nenhuma providência, não confirmou ou desmentiu a veracidade da notícia nem programou ações preventivas ou para tratamento das pessoas contaminadas.
Quatro meses depois de ter saído a primeira notícia, só temos as informações que lemos nos jornais.
A Funai, o órgão responsável pelas comunidades indígenas, está sendo omissa e irresponsável.
O dr. Ishak e a Funai não nos consultaram nem informaram sobre a pesquisa antes de irem às nossas aldeias.
Queremos saber quem mais participou dessa pesquisa e se ela foi feita só para ser relatada em congressos e publicações científicas ou se vamos receber tratamento médico."
Megaron Txucarramãe, administrador regional da Funai em Colíder, MT (Brasília, DF)

Comparação
"Para o ministro Eliseu Padilha, Pelé não é comparável a nenhum outro ser de sua raça porque é considerado uma exceção dentro dela, já que é o único admirável.
E também não pode ser comparado aos melhores de outras raças porque todos os seus talentos ainda não lhe garantiram o status de detentor de plena humanidade.
Por isso ele só seria comparável a um derivado do petróleo, uma das poucas coisas pretas valorizadas no mundo."
Sueli Carneiro, coordenadora-executiva do Geledés Instituto da Mulher Negra/SOS Racismo (São Paulo, SP)
*
"O sr. ministro dos Transportes vem confirmar que o preconceito racial no Brasil é uma realidade, e não simplesmente uma questão de classe.
Urge que o nosso 'rei' reflita se vale a pena estar servindo de exemplo para a exteriorização do racismo, ainda latente em alguns segmentos da nossa sociedade."
Pedro Moraes Trindade, presidente do grupo de capoeira Angola Pelourinho -Núcleo São Paulo (Santo André, SP)

Controle por decreto
"Em 22/4 a Secretaria de Saúde, por meio da resolução SS-48, determinou que a hospitalização de pacientes com distúrbios psiquiátricos decorrentes do uso de álcool e drogas seja feita prioritariamente em unidades de desintoxicação ou enfermarias clínicas de hospitais gerais do SUS/SP.
Medida cabível e flexível, pois não impede a hospitalização de tais pacientes em hospitais psiquiátricos, o que ocasionalmente faz-se necessário.
Parece que o bom senso pára por aí. Seguem-se determinações para que as internações não excedam dez dias em duração, não ocorram mais que três vezes ao ano e que o período entre uma internação e outra não seja menor que 90 dias.
Ignorar que as doenças têm uma evolução natural e pretender controlá-las onipotentemente com normas revela um distanciamento abissal da realidade da doença, dos pacientes e de seus familiares."
Giordano Estevão, diretor clínico, e Maria da Encarnação Rocha Baltazar, diretora administrativa da Casa de Saúde Nossa Senhora do Caminho (São Paulo, SP)

Uso da máquina
"Por mais que se diga que o uso da máquina administrativa será proibido, no caso de reeleição, bem sabemos que na prática isso não vai funcionar.
A lei eleitoral de 1998, que deve ser aprovada pelo Congresso até o dia 3 de outubro, já abre brechas para pensarmos no que nos espera no próximo ano, quando serão eleitos o presidente da República, governadores e prefeitos."
Antonio Francisco, coordenador da Frente Social Democrata de Sindicatos -Estadual São Paulo (Campinas, SP)

Assim é fácil
"Fernando Henrique disse que governar o Brasil é fácil. Como ele governa realmente é fácil.
Como um despreocupado herdeiro de um grande patrimônio, ele simplesmente vai pagando os gastos, com empréstimos cobertos pelo patrimônio e com a venda deste.
Só nos últimos 12 meses, nossa dívida em títulos públicos subiu de aproximadamente US$ 100 bilhões para cerca de US$ 150 bilhões.
Será que ele, Kandir, Barros e companhia administram seus bens pessoais com o mesmo desapego e liberalidade com que administram os bens da nação?"
Guaracy Gouvêa (São Paulo, SP)

Especialização
"Lamentável que um ministro (logo o da Educação) acredite e veicule não ser necessária a menor especialização para a cátedra.
Afirmar que um arquiteto, por ter exercido dez anos de atividade, já pode ser considerado um bom professor é prova, apenas, de que também ministérios deveriam ser ocupados por pessoas especializadas.
Não parece ser o que ocorre."
Luciano Ricardo Rocha de Souza (São Paulo, SP)

Alta tecnologia
"Uma vez mais a 'capital cultural' do Brasil exporta sua tecnologia: não bastassem as técnicas para assalto a carros-fortes, arrastões em praias, sequestros, fraudes no INSS etc., agora nos mostram como tramar um projeto para salvar um clube de futebol do rebaixamento."
Paulo Roberto Casagrande (Rio Claro, SP)

Detalhe insignificante
"Sob o título de 'Avidez federal', a coluna 'Painel' de 26/6 relata a constatação de um ministro de que 'a prorrogação da CPMF é uma decisão política do governo, porque não provocou traumas e não alimentou a inflação, como alguns previam'.
A respeito do insignificante detalhe de que a extorsão não alterou em nada o quadro da saúde no país nada disse, nem lhe foi perguntado."
Antonio Celso G. Brito (Itapetininga, SP)

Bom senso
"Na edição de 24/6 um leitor sugere uma pesquisa sobre a opinião dos leitores em relação aos colunistas, em especial em relação a Roberto Campos, cuja coluna dominical o leitor classifica como desperdício.
Dou aqui o meu voto a favor de não só manter a atual coluna de Roberto Campos aos domingos como solicitar a ele que passe a escrever uma outra diária, pois tenho percebido enorme dificuldade na implantação do bom senso nas cabeças deste país."
Lucas B. Mattos (Belo Horizonte, MG)

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