São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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2.000 vão a enterro de cabo da PM em MG

CARLOS HENRIQUE SANTIAGO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELO HORIZONTE

Cerca de 2.000 pessoas, na maioria PMs, participaram ontem do enterro do cabo Valério dos Santos Oliveira, 36, morto após ser atingido por um tiro durante uma manifestação de policiais por reajuste salarial, na terça-feira passada.
O cálculo foi feito pelo major da PM José Sebastião Aguilar, que organizou o enterro.
Ele estimou em 3.000 o número pessoas que compareceram ao velório do cabo.
Oliveira foi enterrado com honras militares, concedidas geralmente aos militares que morrem em serviço, apesar de ele estar de folga no dia e ter participado de uma manifestação que não tinha sido autorizada pelo comando da Polícia Militar.
A família concordou com o toque de silêncio e com a colocação da bandeira nacional no caixão, mas pediu que os tiros de fuzis não fossem disparados.
A mulher de Oliveira, Carmem, receberá um aumento na pensão porque a morte foi considerada como tendo ocorrido em serviço. Ele tinha dois filhos, Felipe, de 9, e Danilo, de 6.
O enterro aconteceu no cemitério Parque da Colina, onde também foi realizado o velório, evitando-se que o cortejo fúnebre passasse pelas ruas.
Os presentes cantaram hinos evangélicos e rezaram. O pastor Marcos Goulart, da igreja evangélica que era frequentada pelo cabo, pediu aos policiais que perdoassem aos assassinos.
"A família quer perdoar quem deu o tiro. Ouvi falar que os policiais estão revoltados com a morte de Valério, mas é preciso que não haja nenhuma intenção de vingança", disse o pastor.
O irmão do cabo, Wagner Oliveira, 24, disse que a família perdoa o assassino, mas vai acompanhar o inquérito para puni-lo. Outra irmã, Valéria, desmaiou durante o enterro e foi atendida por uma ambulância da PM.
Os líderes dos soldados, cabos, sargentos e subtenentes, que se rebelaram durante quatro dias por melhores salários, decidiram não realizar manifestações.
Os soldados do Batalhão de Choque, colegas do militar morto, foram liberados do serviço para ir ao velório. O governador de Minas, Eduardo Azeredo (PSDB), foi representado pelo secretário estadual da saúde, José Rafael Guerra.
Uma nota oficial do governador pede que "os acontecimentos que o vitimaram jamais se repitam em Minas Gerais".
O crime está sendo apurado por um IPM (Inquérito Policial Militar), e o principal suspeito é o soldado Wedson Gomes Campos. Campos disse que somente deu um tiro para o alto.
A morte de Oliveira foi anunciada às 17h10 de anteontem.

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