São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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'Âncora verde' contribui para a estabilidade

Setor, no entanto, perdeu receita

BRUNO BLECHER
EDITOR DO AGROFOLHA

Mesmo a contragosto, a agricultura tornou-se um dos mais importantes aliados da política econômica do governo nesses três anos do Plano Real.
Logo no início do plano, em 95, uma combinação de fatores adversos aos agricultores, que acabou recebendo o nome de "âncora verde", derrubou os preços agrícolas e, de tabela, contribuiu para a queda da inflação.
Agora, o crescimento das exportações agropecuárias vem colaborando para a redução do déficit da balança comercial.
"Não fosse a queda dos preços agrícolas, a inflação na primeira fase do real teria sido bem maior", aposta Célio Porto, assessor da Secretaria de Política Agrícola do Ministério da Agricultura.
Porto lembra que a agricultura colheu uma das melhores safras da história no início de 95 (81,1 milhões de toneladas de grãos), numa conjuntura amplamente desfavorável: altos estoques mundiais e baixos preços internacionais.
Ao mesmo tempo, no front interno, os juros elevados aprofundaram o endividamento do setor, inibindo também a formação de estoques, e a valorização da taxa de câmbio desfavoreceu as exportações e facilitou as importações.
"O resultado foi que os preços agrícolas despencaram, provocando uma brutal transferência de renda do setor rural para os consumidores, principalmente os de baixa renda", diz Fernando Homem de Melo, da Fundação Instituto de Pesquisas Econômicas (Fipe), da Universidade de São Paulo.
Pelos cálculos de Homem de Melo, a perda de receita da agricultura em 95 ultrapassou R$ 5 bilhões.
Dados da Fipe mostram que, nos três anos do Plano Real, os preços dos alimentos cresceram 39%, contra uma inflação de 67%.
"A 'âncora verde' afundou a agricultura", diz Pedro Camargo Neto, ex-presidente da Sociedade Rural Brasileira.
Ele cita os indicadores do Centro de Estudos Agrícolas da Fundação Getúlio Vargas (FGV). Entre agosto de 94 e abril último, o IPR (Índice de Preços Recebidos pelos agricultores) subiu apenas 28,9%, enquanto o IPP (Índice de Preços Pagos) registrou aumento de 53,7%.
O próprio governo reconheceu o rombo provocado pelo Real no setor. No início de 96, por meio da securitização, possibilitou aos agricultores rolar uma dívida de R$ 7 bilhões com os bancos.
Recuperação
Nos últimos dois anos, a alta dos preços agrícolas no mercado internacional renovou o fôlego do setor, também beneficiado pela isenção do ICMS (Imposto sobre Circulação de Mercadorias e Serviços) nas exportações.
Estimativa do Ministério da Agricultura calcula que o saldo comercial do setor agropecuário (a diferença entre as exportações e as importações) deva alcançar R$ 9,5 bilhões este ano.

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