São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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Mike Tyson e Santa Catarina

FERNANDO RODRIGUES

Brasília - "O meu crime é ter apenas 11 deputados a meu favor."
A frase, repetida muitas vezes nos últimos dias, é de Paulo Afonso Vieira -o governador de Santa Catarina, do PMDB, ameaçado de perder o cargo hoje se a Assembléia Legislativa do seu Estado aprovar um processo de impeachment.
A sinceridade escrachada de Paulo Afonso é útil para o país. Revela como se faz política por aqui. Tudo é uma questão numérica. Nada tem a ver com ética, moral e bons costumes.
Senão, vejamos. Ao choramingar sobre a falta de apoio, o governante catarinense, na realidade, quer dizer algo mais ou menos assim:
"Se eu tivesse sido hábil o suficiente para cooptar deputados nos primeiros anos de meu mandato, poderia fazer o que bem entendesse. Inclusive, poderia desrespeitar a Constituição, gastando como eu quisesse o dinheiro reservado para pagar dívidas judiciais".
Para citar um caso mais famoso, seria o equivalente a Mike Tyson, emprestando a lógica política de Paulo Afonso, justificar sua atitude canibal na madrugada de sábado para domingo ruminando o seguinte:
"O meu crime foi morder as orelhas do Holyfield em frente às câmeras de TV e com os jurados vendo. Se mordesse escondido, ou se os jurados estivessem do meu lado, tudo bem".
Como ninguém morde impunemente as orelhas alheias, com TVs do planeta inteiro observando, Tyson se deu mal. Os juízes foram rápidos. A luta acabou em impeachment quase imediato para o pugilista de Nova York.
Paulo Afonso, para voltar a Santa Catarina, torce para que os deputados da Assembléia Legislativa catarinense sejam lenientes com mordidas em orelhas. A rigor, o governador espera que apareçam para lhe proteger parlamentares de vocação numérica do nível de Ronivon Santiago e João Maia.
Logo mais, saberemos se Santa Catarina continuará no noticiário por ter feito justiça. Ou se por lá, nesse simpático Estado sulista, política é apenas uma questão numérica -como foi no caso da emenda da reeleição de FHC.

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