São Paulo, segunda-feira, 30 de junho de 1997
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Poliglotas morriam pela boca na ditadura

ROGÉRIO C. DE CERQUEIRA LEITE

no Sudeste Asiático
Para nós, ocidentais, jamais será possível entender o que aconteceu entre 1975 e 1979 no Camboja.
Esse país pouco povoado, 7 milhões de habitantes quando tudo começou, teria se suicidado não fosse a intervenção armada do vizinho Vietnã.
Os ocidentais avaliavam até recentemente em pelo menos 1 milhão o número de adultos mortos. As estimativas locais falam ainda hoje em 3 milhões.
Um recente estudo elaborado por universidades norte-americanas, sob o patrocínio da ONU, avalia em pelo menos 2 milhões.
O Khmer Vermelho foi um movimento de inspiração comunista que surgiu, apoiado pela figura figurante do rei Norodom Sihanouk, para expelir uma ditadura corrupta e cruel. Mas converteu-se numa inquisição xenófoba.
Bastava alguém conhecer um pouco de uma língua estrangeira para ser condenado à morte.
Foi uma ação objetiva de extermínio cultural que, como também aconteceu com a Revolução Cultural na China, voltou-se contra seus fundadores.
É preciso visitar o museu S-21, uma antiga cadeia onde, por uma perversão incompreensível, foi feito extenso registro fotográfico da tortura e da carnificina.
São dezenas de milhares de casos nesse centro de interrogatório, um entre dezenas que existiram.
Como se não bastasse o morticínio, o Khmer Vermelho deixou, como herança, 20 milhões de minas enterradas.
Bancadas por doações, três organizações ocidentais se dedicam à remoção desses artefatos que fizeram centenas de milhares de vítimas. Três milhões de bombas já foram retiradas. Por toda parte há adultos e crianças sem pernas.
O Khmer Vermelho passou a ser apoiado pelos EUA, que sustentavam anteriormente, com rios de dinheiro, o regime corrupto derrotado, porque era o mais feroz oponente do Vietnã na região.

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