São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Excesso de rigor atrasa testes

DANIELA FALCÃO
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

A partir do ano que vem, os testes para avaliar a qualidade das vacinas importadas pelo Brasil serão feitos por pelo menos três laboratórios: o Instituto Adolfo Lutz (de São Paulo), o Evandro Chagas (do Pará) e o INCQS (Instituto Nacional de Controle e Qualidade de Saúde), que atualmente faz sozinho todos os testes.
O principal objetivo do governo é agilizar a liberação das vacinas. Como trabalha sozinho, o INCQS fica sobrecarregado e acaba atrasando a liberação. O governo compra 190 milhões de doses por ano.
Na semana passada, especialistas estrangeiros convocados pelo Ministério da Saúde para analisar a qualidade dos testes de vacina tríplice realizados pelo INCQS concluíram que houve excesso de rigor em algumas etapas do teste.
"Os lotes de vacina rejeitados devido à toxicidade específica para coqueluche e toxicidade anormal podem ter sido reprovados devido à injeção de uma dose maior usada pelo INCQS", diz o relatório, entregue na sexta à noite ao ministro Carlos Albuquerque (Saúde).
Nos testes para avaliar se a toxicidade das vacinas estava acima do normal, o INCQS usou nas cobaias 62% da dose aplicada em humanos. No caso das vacinas suspeitas, o INCQS chegou a aplicar uma dose humana inteira.
Na Europa e nos EUA, as autoridades nacionais de controle usam meia dose humana nas cobaias. Segundo os especialistas, o Brasil deveria adotar critérios semelhantes.
Com isso, haveria menos chances de as vacinas aprovadas pelo controle interno dos laboratórios serem reprovadas pelo INCQS.
Quanto ao registro de reações adversas graves em crianças que tomaram as vacinas indianas e suíças, os especialistas afirmaram que não há como afirmar se o número de queixas ficou acima do normal, porque o sistema de notificação no Brasil ainda é incipiente.
A polêmica com os testes da tríplice começou em março, quando foram rejeitadas 11 milhões de doses indianas e suíças. Mas o governo só decidiu convocar os técnicos estrangeiros depois que foram reprovados 3 milhões de doses do laboratório francês Pasteur-Mérieux, que haviam sido comprados para repor as indianas e suíças.
O rigor do INCQS irritou o Ministério da Saúde, porque gerou desabastecimento no país, abalando a credibilidade do programa de vacinas, que era considerado um dos mais eficientes do ministério.

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