São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
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Avalanche de lotações

ROGERIO BELDA

Ainda pode piorar muito o congestionamento do trânsito das cidades brasileiras, mas somente São Paulo se aproxima da situação terrível das cidades asiáticas, onde não se sabe, nunca, em que momento se pode chegar a algum canto da cidade. Por não ter chegado ainda ao absurdo, não há na sociedade brasileira a consciência de que a solução está no transporte público: ônibus, trem e metrô.
O aumento do congestionamento tem dificultado muito o movimento dos ônibus onde não há faixas reservadas a eles. A solução que tem surgido é o uso de pequenos veículos, vans e Kombis como transporte coletivo, inicialmente como atividade de recém-desempregados. Atualmente, são profissionais diversos, pequenos comerciantes, policiais e até taxistas que se transferem para essa atividade, que cresce em São Paulo num ritmo superior a 10% ao mês. Aonde nos leva essa nova solução?
O transporte informal tem grande aceitação junto ao público. É mais ágil e individualiza o passageiro na escolha do seu trajeto. Reflexo dessa aceitação são os artigos na imprensa favoráveis a esse tipo de transporte, que virou até "personagem" de novela -não por acaso nem por necessidade da trama folhetinesca. Nela, é preconizado abertamente um ilícito penal -operar serviço público sem a autorização competente. O mesmo está ocorrendo na vida real das cidades, sem que as autoridades possam ter meios suficientes para, efetivamente, controlar a erupção recente dessa atividade ilegal.
Com exceção de Curitiba e Porto Alegre, cresce o número de lotações nas cidades. A perda de passageiros pelos serviços de ônibus e táxi para o transporte clandestino está provocando aumento de tarifas, pois o custo do funcionamento é repartido por um número menor de pessoas. A elevação das tarifas faz com que ainda mais gente prefira os lotações.
A continuidade desse ciclo tende a levar os serviços de transporte coletivo ao colapso. Quando acontecer, já será um pouco tarde para concluir que a existência dos transportes coletivos é essencial para o funcionamento das cidades.
Nas cidades da América do Sul, pode ser visto que o sistema de lotações leva à degradação da vida urbana, enquanto que, em cidades da América do Norte, a inexistência do transporte coletivo levou, no máximo, à tendência à exclusão dos desfavorecidos, problema latente em nossas sociedades. Tais situações, depois de estabelecidas, são de difícil reversão. São consequências que me impedem de compartilhar a alegria com que está sendo saudado o surgimento do transporte irregular como punição ao imobilismo do sistema existente de transporte coletivo.

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