São Paulo, terça-feira, 1 de julho de 1997
Próximo Texto | Índice

ONU encerra missão de paz em Angola

CARLOS EDUARDO LINS DA SILVA
DE WASHINGTON

Apesar de a tensão em Angola continuar crescendo, o Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) resolveu ontem encerrar a partir de hoje a sua operação de manutenção da paz naquele país da África.
A decisão foi unânime. A Missão Verificadora da Paz, com cerca de 4.000 soldados, entre eles 540 brasileiros, será substituída por uma Missão Observadora, com 86 militares e 345 policiais.
A ONU vem fiscalizando desde 1995 o cumprimento do acordo de paz de Lusaka (Zâmbia), assinado em 1994 pelo governo e o grupo guerrilheiro Unita. O país viveu em guerra civil a partir da independência em relação a Portugal, em 1975, até 1994.
Apesar de frequentes escaramuças militares, em especial na região nordeste, ainda sob o controle da Unita, e de denúncias recíprocas de não-cumprimento dos termos do protocolo de Lusaka, governo e Unita estão trabalhando juntos na Assembléia Nacional. Alguns integrantes da Unita até participam como ministros, vice-ministros e embaixadores do governo de união nacional, instalado em abril.
Mas, desde maio, quando Mobutu Sese Seko foi derrubado no ex-Zaire, o governo de Angola lançou ofensiva militar contra a Unita. Mobutu era a grande força de sustentação da Unita. No Zaire, o grupo tinha bases e soldados e pelo país era feito o contrabando de diamantes que o financia.
O governo de Angola ajudou com armas, dinheiro e soldados o rebelde Laurent Kabila a tomar o poder no atual Congo e agora tenta acabar com qualquer possibilidade de sobrevivência da Unita.
O líder do grupo, Jonas Savimbi, se ofereceu para conversar com o presidente José Eduardo dos Santos fora de Angola. Mas Santos diz que só se encontra com Savimbi em seu país. Savimbi alega razões de segurança para não ir a Luanda, capital de Angola, onde o governo pôs a sua disposição casa, escritório e guarda-costas para ele trabalhar como líder da oposição.
A Unita parece dividida sobre como agir no futuro. Seus generais temem a conclusão do acordo de paz porque vão perder suas atuais fontes de renda, prestígio e poder. Muitos acham preferível manter a luta armada. Um dos principais líderes da via política foi recentemente surrado por militares. Há quem diga que a surra foi ordenada pelo próprio Savimbi, o que, se verdade, pode indicar que ele também prefere o caminho das armas.
Os representantes dos EUA, França e Reino Unido no Conselho de Segurança fizeram menção ontem a combates verificados nas últimas seis semanas na região nordeste e pediram que os dois lados se abstenham de novas ações militares. Mas o embaixador de Angola junto à ONU, Afonso van Dunem Mbinda, reiterou a versão oficial do governo para os incidentes: são apenas resultado de proteção das fronteiras para impedir uma invasão por refugiados do Congo, entre eles aliados de Mobutu.

Próximo Texto: Brasileiros devem voltar em agosto
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.