São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Outra vez as polícias militares

JOSÉ DIRCEU

Outra vez as PMs surgem no noticiário com a marca da violência. Em uma manifestação por melhores salários, em Belo Horizonte, um cabo leva um tiro. O movimento espalha-se, e a cidade é ocupada por tropas do Exército, uma violência. Minas não merecia tal humilhação.
A incompetência dos governadores do PSDB salta à vista. Primeiro foi o governador Mário Covas, incapaz de enfrentar a violência da PM de São Paulo, fazendo uma proposta "marketeira" de reforma, que só serviu para criar conflitos com a alta hierarquia, já que não é para valer. Depois, para acalmar esse mesmo alto comando da PM, fez vistas grossas à violência impune que levou à morte três sem-teto.
Já o governador de Minas, Eduardo Azeredo, mostrou-se totalmente incompetente e incapaz. Subestimou o movimento dos PMs, deu um aumento para os coronéis -verdadeiro tapa na cara dos policiais militares-, fez provocações contra o movimento e, na hora de tomar decisões, vacilou. Ao pedir a intervenção e permitir que o Exército ocupasse Belo Horizonte, desmoralizou-se.
Os governadores precisam tomar nas mãos a reforma das polícias e da política de segurança pública, sob pena de perderem o controle em cada crise com as PMs.
Na verdade, o governo federal, o PSDB, não quer reformar as PMs. Todo o país sabe que é preciso desmilitarizar a corporação, unificar as polícias, acabar com as P-2, que de polícias de disciplina interna das corporações se transformaram em polícia política.
Os governadores não têm controle sobre as PMs, que se transformaram num Estado dentro do Estado. Seus serviços secretos, as P-2, trabalham em consonância com o serviço de informação das Forças Armadas. Ou seja, existe no país uma rede de espionagem política ilegal e inconstitucional. E ninguém faz nada contra isso.
Mais grave é que há anos persistem os problemas da desigualdade salarial, de condições de trabalho, do regulamento disciplinar das PMs, e nada se faz. É escandalosa a diferença salarial entre os coronéis, verdadeiros marajás, e os soldados. É escandaloso o poder político dos coronéis, lobby capaz de paralisar projetos de leis no Senado, tal a dependência de ex-governadores dos esquemas das PMs.
Mudar o regulamento disciplinar e toda a estrutura salarial, pôr fim à autonomia política das PMs (herança da ditadura) e reformar a política de segurança nacional é a única saída. Mas, para isso, o país precisa de um outro governo. Porque este já se mostrou conservador e impotente.

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