São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Paulo Ricardo, seminu, acredita-se maduro

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Nos anos 80, enquanto Paralamas, Legião Urbana, Titãs e Ira! tocavam para um público fiel, o RPM lotava ginásios. Era tempo da "explosão do rock nacional". Pedras rolaram, a banda se desfez, e Paulo Ricardo, o vocalista, baixista e líder, partiu para a vida solo. Em 96, tentou novamente o rock com "Rock Popular Brasileiro". Agora, larga as promessas libertárias do gênero e ataca de baladas românticas.
Em "O Amor me Escolheu", o vocábulo "paixão" é tema de capa -uma foto em que Paulo, seminu, estiliza São Sebastião. O cantor deu esta entrevista à Folha.
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Folha - Por que São Sebastião?
Paulo Ricardo - Eu já estava alimentado pela série de fotos de santos do Rui Mendes. São Sebastião representa a pessoa que sofre por amor. No mais, é uma homenagem ao Rio, cidade em que nasci e voltei a morar. O disco ia se chamar "São Sebastião do Rio de Janeiro". Mas poderia soar regional.
Folha - Por isso a participação de Fernanda Abreu no disco?
Ricardo - Fernanda Abreu foi quem melhor fundiu a eletrônica com o suingue brasileiro. Chamei-a porque é a primeira dama do suingue do Brasil.
Folha - Esse disco traz um Paulo Ricardo reciclado?
Ricardo - É minha guinada para a MPB; dou meu tratamento para a MPB, com minhas influências do pop rock. Me sinto trocando de pele. E esta proximidade com a MPB é definitiva na minha vida.
Folha - Esta guinada é mais romântica?
Ricardo - O disco anterior é o fim de um ciclo de vida. Senti que era momento de dar um passo à frente, coisas que só vêm com a idade, com o amadurecimento. Faço 35 anos em setembro.
Folha - Por que você não toca no disco?
Ricardo - Sinto que canto melhor quando não estou tocando. Me dedico mais. E minha formação de baixista é mais para o rock.
Folha - Você abandonou o projeto da banda de rock?
Ricardo - A grande diferença é a ênfase na qualidade das canções. Uma banda se apóia mais no estilo, não só na sonoridade. Muitas canções de banda derivam de "jams". Como intérprete, vejo as canções uma a uma, sem uma proposta determinada.
Folha - O que difere o Paulo Ricardo de antes e o de agora, sem uma banda atrás?
Ricardo - Fica mais fácil trabalhar, sem a auto-indulgência conceitual do rock. Procurei unir universos distintos. Às vezes, numa banda, você se empolga muito com a "sonzeira".
Folha - Por que você abre o disco com Antônio Marcos?
Ricardo - Faz uma ponte legal com o universo Roberto Carlos dos 60. É minha primeira referência musical, já vou direto ao assunto. Com cinco anos de idade, eu cantava Roberto Carlos na TV, como no Bolinha.
Folha - Você ainda tem contato com os outros "repemês"?
Ricardo - Nos falamos pelo telefone. Somos amigos, não ficou nenhuma mágoa. O Luiz (Schiavon) até me deu uma música, que acabou não entrando no disco. O RPM acabou, mas ainda vende 50 mil cópias por ano.

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