São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Ator incorporou dilaceração dos EUA

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

A história pessoal credenciou Robert Mitchum a representar a dilaceração e o mal-estar da América do pós-guerra.
Mas o físico massudo, o rosto sólido e o olhar tortuoso -ora cínico, ora melancólico, ou dolorido- permitiram dar vida a seus melhores personagens: seres torturados, inquietos, turbulentos.
Talvez a síntese de todos eles seja Jeb Rand, o pistoleiro amnésico de "Sua Única Saída" (1946, Raoul Walsh), cuja família foi exterminada, na sua infância, pela família de sua mulher.
Há um pouco de Jeb Rand no campeão de rodeios de "Paixão de Bravo" (1952, Nicholas Ray), forçado a abandonar a profissão após um acidente. Ou no frustrado Frank Jessup de "Alma em Pânico" (1953, Otto Preminger).
Todos esses filmes trazem a marca do ator carismático, em que o caráter reflexivo do personagem é sempre mais decisivo do que a ação que se desencadeia.
O mesmo acontece em "O Rio das Almas Perdidas" (1954, Otto Preminger), outro faroeste, em que Mitchum faz o ex-presidiário que foge de um ataque dos índios, levando o filho e uma garota de saloon: é um belo e estranho faroeste em que andam lado a lado o puro e o maculado.
Talvez o papel mais emblemático de Mitchum, no entanto, seja o do pregador que, em "O Mensageiro do Diabo" (1955, Charles Laughton), traz nas mãos as palavras "amor" e "ódio", sinais da ambivalência humana inscritas no próprio corpo.
A esses traços crispados, Mitchum mesclou um ar de indiferença que marcou sua imagem, sobretudo na fase madura, quando impôs personagens em que humor e leveza são aspectos relevantes, como em "El Dorado" (1967, Howard Hawks) e "O Último Magnata" (1976, Elia Kazan).

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