São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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Com discurso nacionalista, presidente da China aumenta pressão sobre Taiwan

JAIME SPITZCOVSKY GILSON SCHWARTZ

JAIME SPITZCOVSKY; GILSON SCHWARTZ
ENVIADOS ESPECIAIS A HONG KONG

Jiang Zemin fala para 80 mil em Pequim e quer que 'ilha rebelde' aceite fórmula 'um país, dois sistemas'

A China exortou ontem Taiwan a seguir o modelo usado para a volta de Hong Kong ao controle de Pequim. O presidente chinês, Jiang Zemin, disse que a "ilha rebelde" deve aceitar a fórmula "um país, dois sistemas" para permitir a "reunificação completa" do país.
Hong Kong viveu ontem seu primeiro dia sob controle de Pequim, depois de 156 anos de colonialismo britânico. A fórmula "um país, dois sistemas" permite a Hong Kong manter, por 50 anos, seu sistema capitalista e alto grau de autonomia administrativa.
Jiang Zemin discursou em cerimônia realizada no Estádio dos Trabalhadores, em Pequim, para um público de 80 mil pessoas. Sua fala foi transmitida ao vivo pela TV chinesa.
O presidente chinês aproveita o exemplo de Hong Kong para pressionar Taiwan. A divisão ocorreu em 1949, quando o Partido Comunista venceu a guerra civil chinesa e os nacionalistas se refugiaram na ilha de Taiwan.
China e Taiwan afirmam buscar a reunificação, mas não concordam quanto ao caminho a ser seguido. Pequim quer a aplicação da fórmula "um país, dois sistemas", a exemplo do que ocorre em Hong Kong.
Taiwan diz que aceita a reunificação somente após a realização de eleições democráticas na China.
"A fórmula 'um país, dois sistemas' funciona para Hong Kong e Macau. Pode funcionar também para Taiwan", afirmou o primeiro-ministro chinês, Li Peng. Macau é um território sob administração portuguesa que volta ao controle de Pequim em 1999.
Em seu discurso na festa pela recuperação de Hong Kong, Jiang Zemin advertiu Taiwan a não declarar independência, isto é, renunciar ao objetivo da reunificação. Pequim ameaça invadir a "ilha rebelde" caso ela opte pela independência.
O discurso de Jiang sinaliza nova fase de pressão da China sobre Taiwan. Para o presidente, recuperar a "ilha rebelde" vai lhe garantir um lugar na história chinesa ao lado de Mao Tse-tung (1893-1976), o líder da revolução de 1949, e Deng Xiaoping (1904-1997), patriarca das reformas pró-capitalismo iniciadas em 1978 e que transformam a China numa das potências do fim do século.
Nacionalismo
O Partido Comunista, em crise ideológica por causa do fracasso de dogmas marxistas, recorre ao nacionalismo. Recuperar Taiwan proporcionaria mais força ao discurso nacionalista de Pequim.
Jiang, no 76º aniversário do Partido Comunista, afirmou que apenas o regime atual foi capaz de proporcionar à China "prosperidade, estabilidade, a volta de Hong Kong e um futuro brilhante".
Jiang, que também é secretário-geral do Partido Comunista, reafirmou a disposição de respeitar a autonomia de Hong Kong e prometeu acelerar as mudanças econômicas na China. Mais uma vez, não mencionou reformas políticas.

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