São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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O neomilagre brasileiro

CARLOS HEITOR CONY

Rio de Janeiro - Nos primeiros anos do regime militar, o governo, o empresariado, a quase totalidade da imprensa e muita gente do povo comemoravam entusiasticamente o aniversário do movimento de 31 de março de 64. Além das festividades cívicas, havia prestação de contas, ministros e tecnocratas de vários tamanhos e feitios ocupavam a mídia provando que a plebe estava feliz e o país, próspero.
Já falavam em modernidade naquele tempo. Alinhado ao bloco ocidental-cristão, liderado pela economia norte-americana, o Brasil era um milagre. Ninguém segurava este país.
O governo neoliberal de FHC promoveu os mesmos rituais para comemorar o terceiro aniversário do Real. Trata-se de um plano financeiro que não chega a ser econômico, pois sua base é artificial, dependente de variáveis cujo controle está na globalização gerida pelos países já desenvolvidos.
Para mostrar a precariedade dessa globalização, anúncio de um nó dramático que mais cedo ou mais tarde poderá nos enforcar, cito dois tópicos de jornais americanos especializados em economia e publicados esta semana.
No ano 2000 haverá um superávit de 22 milhões de carros na oferta mundial. Dois anos mais tarde, o superávit deverá dobrar. Mais dez anos e teremos a fantástica proporção de um carro para cada habitante do planeta. A Microsoft está com uma reserva de US$ 9 bilhões sem saber onde gastar. Bill Gates já declarou que não pretende repetir o mesmo erro da IBM, que num passado recente foi obrigada a mascarar (exageradamente) resultados positivos para adiar a crise que quase levou a gigantesca empresa para o buraco.
Um marxista ortodoxo falaria nas contradições do capitalismo. Como não sou marxista e muito menos ortodoxo em coisa alguma, limito-me a continuar duvidando do neomilagre com que nos ameaçam.

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