São Paulo, quarta-feira, 2 de julho de 1997
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A lei de Thirlwall

ANTONIO DELFIM NETTO

No final dos anos 70, um economista inglês, o professor A.P. Thirlwall, construiu um modelo extremamente simplificado que sugeria uma resposta à pergunta: por que os países registram taxas de crescimento econômico diferentes?
Como toda construção de inspiração keynesiana, ele dava ênfase à demanda. Em lugar de reduzir o desenvolvimento econômico apenas a uma combinação feliz de disponibilidade de mão-de-obra, de capital e de incorporação da tecnologia, ele chamava a atenção para o fato de que a existência dessas condições era necessária, mas não suficiente para pôr em marcha o processo produtivo.
A conclusão do modelo do professor Thirlwall é a de que o fator efetivamente limitante da taxa de crescimento de longo prazo de uma economia é a taxa de crescimento de longo prazo das suas exportações combinada com a elasticidade de longo prazo da demanda de importações com relação à produção total, o PIB.
Essa elasticidade é apenas um número que liga a porcentagem de crescimento das importações à taxa de crescimento do PIB no longo prazo. Por exemplo, se ela for de 2, um crescimento do PIB de 5% implica um aumento das importações de 10%.
"Longo prazo" é aqui um tempo suficientemente amplo para eliminar as flutuações do PIB, das importações e das exportações devidas a choques, como a crise do petróleo ou mudanças de tarifas, por exemplo. O modelo completo que leva em conta a possibilidade de movimento de capitais para financiar possíveis déficits de conta corrente é de explicação complicada.
A essência da conclusão, entretanto, é de compreensão muito simples e intuitiva. No "longo prazo", a acumulação de déficits em conta corrente aumenta o passivo do país e aumenta, portanto, a necessidade de remessas de juros, royalties, dividendos etc., o que exige a criação de superávits comerciais crescentes.
No "longo prazo", isto é, depois de acumulado o passivo sustentável, a economia tem de encontrar um equilíbrio dado pela relação: (aumento do PIB) multiplicado pela (elasticidade das importações) = taxa de crescimento das exportações. Por exemplo, se o PIB crescer à taxa de longo prazo de 6% e a elasticidade de longo prazo for 2, as importações crescerão 12% ao ano. No longo prazo o equilíbrio exige que a taxa de crescimento das exportações seja também de 12%.
A chamada "lei de Thirlwall" diz exatamente isso: a taxa superior de crescimento de longo prazo de uma economia é dada pela taxa de crescimento de longo prazo de suas exportações dividida pela elasticidade de longo prazo da demanda de importações.
Desde o artigo original tem havido sucessivas tentativas de verificação empírica dessa "lei". O surpreendente é quando se considera períodos superiores a dez anos; a resposta dos números se aproxima fortemente dos sugeridos por ela.
Não deveria, portanto, ser ignorada pelos gênios fundamentalistas da "ciência" econômica que insistem em negar o constrangimento externo que impuseram ao nosso crescimento, porque no Brasil o "longo prazo" é hoje!

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