São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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Justiça estuda indulto para presos com deficiências físicas graves

AURELIANO BIANCARELLI
DA REPORTAGEM LOCAL

A Corregedoria Geral dos Presídios de São Paulo está estudando uma solução legal que possa beneficiar paraplégicos e outros deficientes físicos graves que cumprem pena nas prisões do Estado.
Há 45 dias, a mesma corregedoria começou a conceder "indultos humanitários" a doentes terminais ou em estado irreversível. Cerca de 20 presos nessas condições já foram indultados.
Segundo o juiz-corregedor Ivo de Almeida, o indulto concedido anualmente por decreto presidencial veda o benefício a condenados por tráfico e por crimes hediondos, como latrocínio (assalto seguido de morte), sequestro e estupro, independentemente do estado de saúde do preso.
No caso dos doentes terminais, os juízes da corregedoria criaram a figura do "indulto humanitário", argumentando que, na condição em que o preso se encontra, "a pena perdeu toda a sua função".
No sistema jurídico, a pena tem a função de aflição -punindo o condenado pelo erro- e a de educar, servindo de exemplo para a sociedade. "No caso do doente terminal, é tal seu de sofrimento que não tem mais consciência do castigo", diz Almeida. "E sua pena, ao contrário de exemplo, é objeto de indignação da sociedade."
O caso dos paraplégicos é exemplar. Na terça-feira, Almeida visitou um grupo de 40 deficientes físicos que cumprem pena na Penitenciária do Estado, no Carandiru. Na véspera, eles tinham iniciado uma greve de fome pedindo atenção do Judiciário e melhores condições de saúde.
O juiz diz que vários deles foram presos cometendo crimes como paraplégicos. "Se forem indultados por serem deficientes, poderão voltar ao crime, ser presos de novo e ter direito a novo indulto."
Ivo de Almeida disse que receberá até amanhã os prontuários de todos os deficientes da Penitenciária para uma análise de cada caso.
Ontem à tarde, um grupo de parlamentares e representantes de entidades de direitos humanos foi recebido pelo juiz-corregedor interino José Bittencourt. O juiz teria acenado com a possibilidade de que médicos voluntários venham a participar de um mutirão para a realização de laudos.
Em maio passado, a corregedoria visitou o Hospital Penitenciário e pediu providências à Secretaria da Administração Penitenciária.
A posse de um novo diretor médico, Paulo César Sampaio, está sendo vista como indicador de mudanças na atenção aos presos doentes. "A lei não admite discriminações ao preso", diz Almeida.

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