São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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Deságio na venda de ações superava 50%

ELVIRA LOBATO

ELVIRA LOBATO; CLÁUDIA GONÇALVES
DA SUCURSAL DO RIO

Comprador de planos de expansão recebia de R$ 500 a R$ 700; estimativa de ministro é considerada exagerada

Superou 50% o desconto na venda de ações de estatais de telefonia entregues a quem quitou planos de expansão por R$ 1.117,63. Em relação ao que o comprador do plano no primeiro semestre de 96 poderia apurar hoje na venda a preços de mercado, algo em torno de R$ 2.000, o deságio chega a 75%.
No interior de São Paulo, escritórios de intermediação pagavam R$ 500, em média, a cada assinante pelo direito de ficar com as ações da Telesp previstas no contrato do plano de expansão.
No Rio de Janeiro, o preço chegava a R$ 700. Empregados desses escritórios, conhecidos como "zangões", informam que seus patrões suspenderam os negócios até que o governo divulgue uma solução definitiva para o impasse criado pela Telebrás.
O mercado paralelo de compra de direitos de ações das telefônicas estatais está parado desde que a Telebrás divulgou sua decisão de não entregar ações -e sim dinheiro- aos assinantes que quitaram planos de expansão em 96.
A Telebrás adiou as assembléias de acionistas das 28 telefônicas, que iriam votar a proposta de devolução do autofinanciamento em dinheiro, até que o governo consiga um embasamento jurídico que respalde essa decisão.
Anteontem, o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, declarou que estuda uma forma de entregar ações apenas aos compradores originais das linhas.
Nesse caso, os intermediários que compraram os direitos sobre as ações ficarão nas mãos dos assinantes para reaverem o dinheiro.
Segundo um corretor carioca, alguns especuladores apostaram mais de R$ 500 mil na compra de direitos, no Rio.
Um intermediário de São Paulo, que não quis se identificar, disse que tem cerca de R$ 1 milhão em direitos de ações da Telesp.
Como funciona
O mercado paralelo de direitos funciona da seguinte forma: o vendedor assina uma procuração dando poder ao intermediário para transferir as ações para seu nome ou vender os títulos no mercado.
O comprador recebe, à vista, um valor inferior ao que pagou à telefônica (R$ 1.117,63) como autofinanciamento para a instalação da linha. Além de assinar a procuração, ele deixa uma cópia de sua identidade, do CPF e do carnê do plano de expansão quitado.
Essa negociação paralela é conhecida no mercado como "ação futura". No momento da compra, o especulador não sabe o número de ações a que o assinante terá direito, pois ele só é definido depois que a telefônica fecha seu balanço.
O intermediário adianta o dinheiro apostando na valorização das ações. Segundo informações de corretores, grande parte das procurações é assinada em branco e existe mercado até para a compra de ações que estão em nome de pessoas mortas.
Apesar dos ataques verbais de Motta aos intermediários, os "zangões" agem livremente no Rio, nas proximidades da Telerj.
A compra de direitos está suspensa, mas o mercado paralelo de cautelas (de títulos) continua ativo no Rio. De calculadoras em punho, os "zangões" abordam as pessoas dinheiro à vista (87% da cotação em Bolsa) aos que estão de posse de ações da Telerj e da Telebrás naquele momento.
Exagero
Edmon Rubies, diretor da Bolsa do Telefones, empresa que intermedeia negócios com telefones em São Paulo, estima em apenas 30% das ações da Telebrás estão na mão de especuladores.
Rubies acredita que o ministro Sérgio Motta exagerou ao afirmar que 70% dos títulos da estatal estariam com grupos especulativos.
Mas confirma que, antes de a Telebrás anunciar a devolução em dinheiro, muita gente estava vendendo os direitos por R$ 500.
Rubies também confirma que, após o anúncio da Telebrás, esse tipo de negócio parou de ocorrer.
"Nos Estados do Sul do país, acredito que aproximadamente 40 mil lotes de ações (com mil ações cada) foram comercializados dessa forma. Os corretores pagavam cerca de R$ 500 por plano", diz.
Na capital paulista, os preços iam de R$ 500 a R$ 700 por plano.
Como as ações e a linha telefônica estão desvinculadas, ou seja, o assinante pode vender as ações e continuar com a linha e vice-versa, muita gente vendeu seus direitos sem saber o real valor das ações.

Colaborou Cláudia Gonçalves, da Reportagem Local

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