São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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Gafe de Motta irrita Fernando Henrique

WILLIAM FRANÇA; FRANCISCO CÂMPERA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Num discurso de 20 minutos no Palácio do Planalto, o ministro Sérgio Motta (Comunicações) cometeu uma gafe em relação ao presidente do consórcio Americel, Gerard Vazquez, e foi advertido pelo presidente Fernando Henrique Cardoso.
A gafe ocorreu quando Motta falava do consórcio Americel, ganhador da área 7 da banda B da telefonia celular, que ontem assinou contrato de outorga de concessão.
Depois de citar dados sobre a área a ser atendida, o ministro resolveu qualificar as integrantes do consórcio, formado pelas empresas canadenses Bell e Telesystem.
"É um consórcio composto por diversos fundos privados, por empresas públicas, por grupos privados nacionais, e participa a Bell Canadá -que é uma empresa excepcional, de qualidade muito boa- com outra empresa. Mas, na verdade, quem segura tecnicamente é a Bell Canadá", disse Motta, sem citar a outra participante.
O problema é que, no pequeno palanque no Salão Oeste do Planalto, ao lado de Fernando Henrique, estava Gerard Vazquez, que também é vice-presidente da Telesystem, além de presidir o consórcio Americel. Diante do comentário, Vazquez voltou-se para o ministro.
Nesse momento, o presidente voltou-se para Motta e, irritado, fez discretamente um sinal com a mão para que ele parasse. Houve risadas. Motta engasgou e teve de repetir, três vezes, a frase "Então, na realidade...", até se fazer ouvir novamente.
Cheque no chão
Logo depois, Motta foi mostrar o cheque que havia recebido da Americel e o deixou cair no chão. Rapidamente, ele abaixou-se e apanhou o papel. Diante dos flashes de fotógrafos, o ministro voltou-se para a imprensa e disse: "Vocês vão ter de escrever: ele foi ágil".
A pedido de um fotógrafo, Motta tentou exibir o cheque próximo ao presidente. "Não, não, perto de mim, não", disse Fernando Henrique, fazendo gesto de que estava empurrando o ministro.
Logo no início da cerimônia, Motta deixou o presidente visivelmente irritado ao insistir que ele é candidato à reeleição. Ao citar o PSDB, Motta voltou-se para o presidente e disse que o partido tem "grandes projetos para o futuro". Com o desconforto de Fernando Henrique, o ministro emendou: "Desculpe, presidente, foi incontrolável".
Pouco depois, ao falar da "gestão pública ética e moral" que afirma estar fazendo no ministério, Motta classificou as ofertas que o governo vem recebendo na área da banda B como "propostas indecentes". Diante do susto dos convidados, ele explicou: "Pelo volume do valor."
Constrangimento
A gafe de Motta constrangeu os executivos do consórcio Americel. Muito sem graça, o vice-presidente da Telesystem, Gerard Vazquez, pediu a seus assessores para chamar a imprensa logo após o discurso.
Diplomaticamente, Vazquez disse que Motta "se esqueceu" das outras empresas que integram o consórcio Americel.
"Deve ser porque ele estava sem papel" disse.
Vazquez fez questão de frisar que a Telesystem é o maior grupo do Canadá, de capital fechado, no setor de telecomunicações.
Só no Canadá, segundo Vazquez, os assinantes da Telesystem são mais de 1,5 milhão. A empresa também é proprietária da Teleglobe (equivalente à Embratel no Brasil).
A Telesystem também atua no ramo da telefonia celular na China, Romênia, Índia e Colômbia.
"Ele (Motta) deixou a impressão de que só há um operador dentro do consórcio", reclamou.
As empresas que formam o consórcio Americel são a Bell Canadá, Telesystem, fundos de pensão brasileiros, grupo La Fonte, Banco do Brasil, Citibank e Banco Opportunity.

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