São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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Todas as mentiras sobre o Brasil de FHC

ALOYSIO BIONDI

Nas comemorações do aniversário do Real, faltou prestar homenagem à principal virtude da equipe FHC: a sua capacidade, de fazer inveja a Maquiavel, de negar a existência de problemas e repetir explicações maravilhosas para toda e qualquer distorção. Pena que, de explicação em explicação, a economia do país e a sociedade estejam indo para o brejo.
1. Os pobres O Plano Real, diz-se, redistribuiu a renda. De 1994 para 1995, os 50% mais pobres ampliaram sua fatia de 11,3% para 12,2%. O "salto" em si já é ridículo. Mas há mais: a comparação apenas com 1994 é desonesta. O resultado de 12,2% em 1995 é inferior ao de 1993 (com 12,5%) ou ao de 1991 (13,6%).
2. Importações Nos primeiros 15 dias do mês de junho, as importações caíram, as exportações mantiveram bom nível e houve até um saldo positivo de US$ 90 milhões na balança comercial. "O governo conseguiu reverter o déficit", proclamou-se. Na segunda quinzena do mês, as importações voltaram ao nível de US$ 260 milhões por dia -e o rombo voltou. E vai crescer, muito, daqui para a frente, com o fim das exportações da safra agrícola deste ano.
3. Gustavo Franco Esta Folha publicou precioso caderno especial sobre as perspectivas das contas externas do país. Nele, em entrevista, o diretor do Banco Central para a área externa, Gustavo Franco, exibia mais uma vez seu otimismo sobre o "rombo" e a "torra de dólares" que vem ajudando a implantar nos últimos três anos.
Dizia que as exportações agrícolas estavam crescendo graças à genialidade da equipe FHC, que eliminou a cobrança do imposto estadual, o ICMS, sobre o setor. Tolice: o valor das vendas agrícolas subiu devido à disparada dos preços internacionais, sobretudo da soja e do café. E, no caso da soja, essa tendência não existirá para o próximo ano: os EUA vão colher uma safra simplesmente monstruosa, de quase 80 milhões de toneladas. Os preços já estão despencando. Menos dólares.
4. Gustavo Franco O doutor Gustavo Franco diz também que algumas grandes empresas estão mostrando maior agilidade nas exportações, e cita a Embraer, a indústria nacional de aviões, que foi privatizada, como exemplo. Falseamento da verdade: a Embraer há praticamente dois anos já discutia os grandes contratos que conseguiu fechar neste ano. Por que a operação não saiu antes? Porque os compradores, como é normal no comércio internacional, queriam que as vendas fossem financiadas. A equipe FHC recusou esse financiamento, enquanto ela era estatal. Agora, o BNDES (banco estatal) vai financiar a venda para o "ágil" grupo empresarial que comprou a Embraer.
5. Rombo Com a volta do "rombo" da balança comercial, vai ganhar força o debate sobre a pretensa necessidade de desvalorizar o real, para aumentar as exportações e reduzir as importações? Pena. Essa não é a saída. O Brasil precisa rever as tarifas de importação, absurdamente reduzidas pela equipe FHC (repetindo: no Japão, a maioria dos produtos estrangeiros paga 13% de impostos; na Coréia, 23%. No Brasil, predomina a tarifa zero, isto é, sem nenhuma cobrança de impostos).
6. Inadimplência Desde outubro de 1995, isto é, há 21 meses, a equipe FHC e lideranças empresariais capachildas dizem que a inadimplência do consumidor está recuando. A verdade: em São Paulo, o número de carnês em atraso situava-se na faixa de 1 milhão, historicamente. No ano passado, já chegava aos 3 milhões. Hoje, são nada menos de 4,5 milhões de carnês em atraso. Só na Grande São Paulo.
E os cheques sem fundos? No país como um todo, a média era de 1,3 por mil. Subiu para a faixa de quatro por mil, no ano passado. Este ano, aproxima-se de sete por mil. Retrato do poder aquisitivo da população. Por isso mesmo, despencam as vendas até nos supermercados.

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