São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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América inocente se despede de seu maior símbolo

LEON CAKOFF
DA EQUIPE DE ARTICULISTAS

Lá se vai o ícone da América puritana e inocente. Cabem muitos outros adjetivos para o grande James Stewart, o mais popular ator de Hollywood. Na maioria dos filmes que vermos com James Stewart, a sensação continuará inalterável: a de estarmos vivendo os melhores anos de nossas vidas.
Muitas vezes confundido com a perseverança de seus personagens, Stewart foi símbolo de patriotismo, herói da aviação da Segunda Guerra, sempre insistindo em representar uma atônita e desengonçada figura traída na sua confiança frente a um mundo corrompido.
Apesar de já ter aparecido em filmes de William Wellman e Henry King, é "Do Mundo Nada se Leva" ("You Can't Take It with You"), de Frank Capra, Oscar de melhor filme e direção de 1938, que marca a sua consagração. Com Capra, sua imagem passaria a ser confundida com a do otimismo por um sistema teria que dar certo.
O apogeu dessa investida é outro filme consagrador da dupla no ano seguinte, "A Mulher faz o Homem" ("Mr. Smith Goes to Washington"), em que um jovem caipira vai à capital para combater a corrupção dos senadores.
Foi o filme "Núpcias de Escândalo" ("The Philadelphia Story"), de George Cukorde, de 1940, que lhe valeu o único Oscar da carreira. Investindo no gênero do bom-mocismo displicente, a estatueta teria permanecido por gerações na pequena loja da família em Indiana, na Pensilvânia.
"Festim Diabólico" ("Rope"), de 1949, liga Stewart a Alfred Hitchcock pela primeira vez. É o cinema de estilo arrojado para um ator que passou a agregar a ironia na sua grandiloquência.
Esse primeiro filme colorido de Hitchcock foi mais uma marca indelével na carreira do ator de gestos nobres. Com Hitchcock, vem mais um clássico que confunde patriotismo e democracia. É o hoje premonitório "Janela Indiscreta", execrado em 1954 pelos simpatizantes do comunismo no Leste Europeu. "Vertigo" ou "Um Corpo que Cai" é um Hitchcock-Stewart que será sempre achado na lista de melhores da história do cinema.
Poucos atores firmaram-se como James Stewart com a proeza de se fazer confundir com os filmes e suas épocas. A galeria de mestres do cinema que o dirigiu tem ainda John Ford, Don Siegel, Oto Preminger e Billy Wilder.
Para ele, e num tempo em que esse era o maior referencial da cultura popular, o cinema consagrou o triunfo do bem sobre o mal.

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