São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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O nome é corrupção

CLÓVIS ROSSI

São Paulo - O governador de um dado Estado confessa que violou a Constituição. Tempos depois, todo o seu secretariado mais os presidentes de estatais pedem demissão.
Um "oh" de alívio deveria percorrer a pátria, por ver que, enfim, homens públicos reagem indignados ao fato de um governante violar a Constituição e, ainda por cima, dar-se ao desplante de confessar o crime e achar que não deve ser punido por ele.
Seria bom se essa história tivesse ocorrido em algum Estado brasileiro. Até aconteceu, na primeira parte. A segunda, a demissão por indignação com o crime, não houve. Está havendo, sim, uma descarada ação para permitir que o governador ofereça empregos a deputados de outros partidos e, assim, evite ser afastado do cargo.
Antigamente, ainda se cuidava de guardar as aparências. Reformas do secretariado eram sempre apresentadas como a necessidade de aperfeiçoar o funcionamento do governo.
Agora, nem isso. Não há a menor preocupação em esconder que a mexida tem o caráter único e exclusivo de buscar votos para evitar a punição por um crime do qual o governador do caso (Paulo Afonso Vieira, do PMDB de Santa Catarina) é réu confesso.
Antigamente, dava-se a esse tipo de comportamento a designação de fisiologia ou fisiologismo. Mas o presidente da República de turno houve por bem decretar, durante a sua campanha eleitoral, em entrevistas e artigos, que o fisiologismo morrera no Brasil.
Como, então, qualificar o comportamento do governo catarinense, agora em bloco?
Não me ocorre nenhuma outra que não corrupção. É forte? É, mas está autorizado pelo "Aurélio", que traduz corrupção por, entre outras coisas, "suborno", "peita".
Nem se imagine que é ranzinzice desta Folha. Todos os grandes jornais brasileiros trataram do assunto como uma manobra para evitar o impeachment. Torço para perder, mas aposto que a manobra dará certo.

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