São Paulo, quinta-feira, 3 de julho de 1997
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"Conversas desinibidas"

ELIANE CANTANHÊDE

Brasília - Ao admitir alianças até com o diab..., digo, até o infinito, o presidente Fernando Henrique Cardoso estabeleceu a regra do vale-tudo para as eleições de 98.
Seus velhos companheiros do PSDB sentiram-se liberados para procurar o outro lado -ou seja, Deus e todo mundo.
Vamos ao exemplo prático: o governador Mário Covas e o senador José Serra decidiram conversar com o PT, o PFL, parte do PMDB e tudo o mais que passar pela frente, para concorrer em 98 com unhas, dentes e bom tempo na TV.
"Serão conversas desinibidas", admitiu Serra.
Em português curto e grosso, o objetivo pode ser formar uma frente, inclusive com o PT, para isolar Paulo Maluf à direita. De acordo com as pesquisas, Maluf é o favorito da eleição.
Dois meses atrás, Lula reclamou que cada um no PT estava salvando a própria pele. Em São Paulo, Suplicy deve disputar a reeleição ao Senado; Erundina, Genoino, José Dirceu e Mercadante tendem a se candidatar à Câmara. E quem vai para o governo?
Na ocasião, Lula admitiu candidatar-se à Presidência da República, com uma condição: que os outros petistas lhe dessem palanques, assumindo o risco de candidaturas majoritárias ou, pelo menos, aceitando alianças com outros partidos.
Agora, Serra responde indiretamente: o PSDB topa discutir uma aliança. O que ele não diz, mas se pode deduzir, é que a base seria Covas para o governo, Suplicy para o Senado.
Trocando em miúdos, FHC livrou-se de Maluf e jogou a batata quente para os tucanos paulistas. Assim, acionou o instinto de sobrevivência e eles tratam de se proteger como podem.
Essas cenas explícitas do vale-tudo ocorrem também no Rio. Ali, pasmem, começa a se costurar o acordo César Maia (PFL) para o governo, com Leonel Brizola (PDT) para o Senado. Ambos contra o tucano Marcello Alencar.
Maia foi um seguidor reverencial de Brizola. Depois, rompeu com estardalhaço. A proximidade das eleições pode estar promovendo o milagre da reaproximação.

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