São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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ACM considera "intolerável" atuação de detetives

DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente do Senado, senador Antonio Carlos Magalhães (PFL-BA), autorizou a Polícia Federal a realizar uma varredura nos telefones do Senado para detectar a existência de grampo e pediu que o governo acabe com a atividade exercida irregularmente pelos detetives particulares no país.
Essa foi sua reação às denúncias de espionagem política contra o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), líder do governo no Congresso.
"É intolerável a existência de detetive particular. O Senado está exigindo uma ação rápida para que esse tipo de atividade desapareça, porque é uma nódoa aos princípios democráticos", afirmou ACM, após discurso de Arruda.
O corregedor-geral do Senado, Romeu Tuma (PFL-SP), começou ontem mesmo a acompanhar as investigações da PF sobre o caso.
Segundo o diretor da Secretaria de Comunicação Social do Senado, Fernando César Mesquita, o sistema telefônico digital usado pelo Senado é tão sofisticado que é quase imune a "grampo". Mas os telefones diretos usados pelos senadores e os aparelhos celulares não estão protegidos da escuta.
Tuma, ex-diretor-geral da Polícia Federal, também criticou a ação dos detetives particulares. "O problema é que eles querem exercer a atividade da polícia sem mandado judicial, como realizar escuta telefônica e investigar pessoas. O mandado deles é o pagamento", disse.
Pânico
Arruda considerou-se vítima de "uma agressão torpe que não cabe no regime democrático. Os direitos individuais das pessoas têm de ser preservados".
As novas denúncias de quebra de sigilo telefônico instalaram novamente o pânico entre os senadores em relação à invasão de sua privacidade.
"Esse negócio de grampo ou gravação de conversa está de um jeito que você fica desconfiado toda vez que fala com um sujeito que está de pasta", disse o líder do governo no Senado, Elcio Alvares (PFL-ES).
"Isso é uma coisa muito grave que tem de ser apurada até o fim para servir de exemplo", disse o líder do PSDB, Sérgio Machado (CE).
Alvos
O ministro Raphael Barros Monteiro Filho, 57, do STJ (Superior Tribunal de Justiça), disse ontem à Folha não imaginar o motivo de ser um dos alvos de esquema de espionagem política investigado pela PF (Polícia Federal).
Ele afirmou que, na última terça-feira, recebeu telefonema do delegado Rômulo Fisch de Berredo Menezes, da PF, avisando-o da apreensão do extrato telefônico.
O extrato -do telefone de seu apartamento- é de abril, mas tem ligações feitas em fevereiro e março. Foi apreendido em empresas clandestinas de detetives.
A PF chegou à empresa ao investigar a possibilidade de uma rede de prostituição estar atuando por meio dessas agências de detetives.
"Não faço a menor idéia do que possa ser. É desagradável, constrangedor. Não sei quem possa ter interesse, mas não creio em interesses políticos."
Segundo Barros Monteiro, o delegado informou a ele que o seu extrato não tinha nenhum número de telefone assinalado à mão, como ocorreu com o extrato do senador José Roberto Arruda (PSDB-DF). Ele aguarda novas informações da PF.
FHC
O presidente Fernando Henrique Cardoso criticou ontem a possibilidade de espionagem política em Brasília, mas considera que o assunto é uma "questão policial".
"O presidente da República condena evidentemente esse tipo de prática, que é proibido pela Constituição e pelas leis", afirmou o porta-voz da Presidência da República, Sergio Amaral.

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