São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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Espionagem envolve pelo menos dois policiais civis

ELIANE CANTANHÊDE; ABNOR GONDIM
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

Suspeitos se negam a prestar esclarecimentos à Polícia Federal

Dois dos três detetives particulares suspeitos de espionagem política em Brasília são policiais civis -um deles da ativa. Eles foram ouvidos ontem pela Polícia Federal, mas se recusaram a prestar esclarecimentos. Só falam em juízo.
Os policiais estão envolvidos em atos de espionagem contra o senador José Roberto Arruda (PSDB-DF), líder do governo no Congresso, e o ministro Raphael Barros Monteiro Filho, do STJ (Superior Tribunal de Justiça).
Um dos policiais civis, conhecido como Romualdo, negou-se a responder ao delegado Rômulo Fisch de Berredo Menezes, da PF, como havia conseguido na Telebrasília, ilegalmente, extratos das ligações telefônicas do senador, entre 31 de março e 26 de abril.
"É serviço meu", teria dito o policial da empresa Águia Investigações, localizada na Superquadra 715 norte de Brasília. A divulgação dos extratos caracteriza quebra do sigilo telefônico. É crime.
Também foi interrogado pelo delegado o detetive Laurenir Alves, o "Bareta", da Agência de Investigação Brasília, em cujo escritório foram descobertos os extratos telefônicos do ministro do STJ.
O presidente da Telebrasília, Hassan Gebrim, foi procurado ontem pelo agente da PF Luiz Cláudio Alvelar. Gebrin, entretanto, disse à Folha que não havia recebido as cópias dos extratos e que não tinha elementos para iniciar uma sindicância interna.
A Folha apurou que a identificação dos funcionários é possível porque os extratos são originais e foram obtidos em computadores da própria Telebrasília. Como se trata de informação sigilosa, cada extrato contém o código do funcionário que o manipulou.
Chelotti confirma
O diretor da PF, Vicente Chelotti, confirmou a notícia divulgada ontem pela Folha sobre as investigações de espionagem política.
"A Polícia Federal fará todas as investigações possíveis para identificar quem foram os mandantes e quais eram os seus objetivos para obter os extratos do senador e do ministro", disse Chelotti.
A PF está tentando manter em sigilo os nomes dos policiais envolvidos com a empresa Águia, pois eles estariam dispostos a colaborar na identificação dos mandantes.
Os parlamentares de Brasília estão colhendo informações detalhadas sobre as estreitas ligações de políticos importantes da cidade com policiais civis e com a importação de equipamentos de escuta e rastreamento telefônico.
Com relação ao detetive "Bareta", a PF descobriu que ele é acusado de homicídio em Ceilândia, cidade-satélite de Brasília.
Combate ao "grampo"
Os extratos foram apreendidos pela PF no último dia 1º, durante operação realizada pelo delegado Rômulo Menezes, chefe da Dops (Divisão de Ordem Política e Social), em 19 empresas de investigação particular.
Segundo a PF, a operação visou combater a prática de "grampo" telefônico anunciada abertamente por essas empresas particulares nos classificados dos jornais de Brasília.
Em uma das empresas investigadas, do vigilante Adilson Martins Siqueira, foram encontrados equipamentos importados de espionagem, como um aparelho que capta sons a 1,5 km de distância.
Com mandados judiciais obtidos junto ao juiz federal Marcus Vinicius Bastos, a PF apreendeu dezenas de fitas de gravações, obtidas pelos "grampos" telefônicos instalados pelas empresas.
Nenhuma das gravações se refere ao senador ou ao ministro do STJ, segundo o delegado Menezes.
Ninguém foi preso porque a PF não flagrou nenhum detetive gravando conversas telefônicas. Os envolvidos irão responder a inquérito com base em lei de 96, que transformou em crime escuta telefônica não autorizada pela Justiça. A pena é de 2 a 4 anos de prisão.

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