São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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Investigador mora em favela

IRINEU MACHADO
DA AGÊNCIA FOLHA, EM BELÉM

O investigador da Polícia Civil Liberato Lima da Silva, 43, ganha pouco mais de R$ 300,00 mensais para sustentar a mulher e as duas filhas. Silva é policial há 11 anos e diz que se sente "constrangido" por morar em uma favela, "rodeado de traficantes, homicidas e outros criminosos", sem poder fazer nada.
Ele mora há sete anos num loteamento clandestino chamado Cabanagem, na periferia de Belém.
Silva declarou que presencia com frequência homicídios a tiros ou a facadas na favela. "Não posso fazer nada porque eles sabem quem eu sou e onde moro com minha família. Não posso mudar de lá porque só para alugar um quartinho na periferia, gastaria metade do meu salário. Só comemos carne de segunda", disse.
Um investigador em início de carreira ganha R$ 290,00 por mês. Para Silva, o ideal seria um salário de, no mínimo, R$ 1.000,00.
"A grande maioria dos policiais vive na penúria. Chega a um ponto de saturação em que a tentação de fazer coisas erradas é muito grande", afirmou. Silva disse que nunca tentou entrar para a "marginalidade" para melhorar seu padrão de vida, mas que há policiais que o fazem. "É difícil para um policial resistir a essa tentação."
O piso salarial da Polícia Civil do Pará é de R$ 260,00. Um delegado ganha em média R$ 1.600,00. Há seis anos, o salário de um delegado era equivalente a quase 28 salários mínimos, que hoje seriam cerca de R$ 3.260,00.

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