São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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Biografia de Zweig está sendo reescrita

FERNANDO DE BARROS E SILVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

Alberto Dines está reescrevendo "Morte no Paraíso - A Tragédia de Stefan Zweig", a sua biografia sobre o escritor judeu e austríaco que se matou junto com a mulher, em 1942, aos 60 anos, em Petrópolis, no Rio de Janeiro.
A primeira edição do livro saiu em 81 pela Nova Fronteira. Está esgotada há anos. De lá para cá, Dines diz ter recolhido muita documentação nova. Para incorporá-la ao livro, está reescrevendo-o do começo ao fim. A nova versão deve sair até março de 98, pela Rocco, cerca de um terço maior.
"A biografia do Stefan Zweig", diz Dines, "foi a grande virada da minha vida, virada profissional, existencial, completa. Parei de fazer análise, oito anos de análise, em função dessa biografia."
Os ingredientes da vida de Zweig vão ao encontro das duas grandes obsessões de Dines: o Brasil e a tradição judaica. Zweig se refugiou no Brasil fugindo do nazismo. Aqui, escreveu o livro "Brasil, País do Futuro". Matou-se no paraíso, correndo do inferno nazista.
"Stefan Zweig foi enredado pelo Estado Novo. Esse foi meu objetivo: mostrar como um humanista, uma pessoa delicada e culta foi enredada pelo lodaçal enganoso do Estado Novo", diz Dines.
O tema da perseguição aos judeus voltaria a ocupar o autor nos seus livros subsequentes, "O Baú de Abravanel" (1990) e "Vínculos do Fogo" (1992), ambos da Companhia das Letras.
O subtítulo do primeiro explica tudo: "Uma Crônica de Sete Séculos Até Sílvio Santos". No livro, Dines reconstitui a saga dos Abravanel desde o século 13 até chegar em Senor Abravanel, mais conhecido como Sílvio Santos.
A crônica de Dines mostra como a intolerância e o fanatismo religiosos, praticados em nome da unidade da Igreja Católica, atingem os Abravanel pelos séculos.
Em "Vínculos do Fogo", que ainda terá um segundo volume, o personagem biografado é o advogado, poeta e dramaturgo Antonio José da Silva, brasileiro conhecido como "O Judeu", condenado à morte pela Inquisição e executado em 1739, em Lisboa.
Baseado em extensa pesquisa documental, recolhida por Dines no período em que morou em Lisboa, entre 88 e 95, "Vínculos do Fogo" vai aos primórdios da Inquisição para mostrar como o Santo Ofício montou a engrenagem da perseguição aos hereges.
Ao falar dos seus livros, Dines evita separar jornalismo e história. "A curiosidade do jornalista tem de ser a mesma do historiador, e a paciência do historiador, a mesma do jornalista".
Segundo ele, é preciso combater a tendência ao "cientificismo que ronda a história, porque isso a condena à clausura acadêmica e deixa de lado a preocupação com os historiados".
(FBS)

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