São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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O NOVO TOM DE LULA

O artigo publicado ontem por Luiz Inácio Lula da Silva nesta Folha sinaliza, mais do que uma evidente mudança de tom, uma maneira diferente de enfatizar temas cruciais para o desenvolvimento do país. Lula reconhece realisticamente a necessidade de enfrentar os desafios da competição global e de enxugar o Estado. Ademais, o seu texto traz uma tácita aprovação de escolhas recentes do eleitorado europeu. É certo que, na Itália, Reino Unido e França, elas foram de centro-esquerda, mas de uma centro-esquerda que, nos dois primeiros países, aceitou boa parte do receituário liberal.
O PT poderá argumentar que já havia feito a opção pela economia de mercado e que jamais desprezou a necessidade de o país se expor à competição internacional, de reformar o Estado e de privatizar, ainda que de maneira muito limitada. Intelectuais do PT, como o economista Paul Singer, já se manifestavam nesse sentido mesmo em 1994. No entanto, na apresentação de seu programa, a ênfase e prioridade petistas eram fortalecer e fazer crescer o mercado interno para assim aumentar a competitividade da economia, por meio de ganhos de escala, e para, também desse modo, atrair investimentos externos. Abertura, desregulamentação e privatização eram relegadas a um plano menor ou criticadas duramente.
Lula ressalta, como é óbvio e também necessário, os problemas sociais criados pela nova ordem mundial e pelas políticas econômicas dominantes. Mas o faz, ao que parece, seguindo o realinhamento das posições da esquerda, em que a palavra socialismo tem sido trocada por expressões como "economia social de mercado" ou "capitalismo regulado", usadas em abundância nos textos teóricos recentemente produzidos por partidos de esquerda.
Dado o seu louvável realismo, essa mudança de tom pode servir para que o partido encontre um caminho para propor alternativas factíveis para o país, em que pese a resistência que deve encontrar em seus setores mais radicalmente à esquerda.

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