São Paulo, sexta-feira, 4 de julho de 1997
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TURBULÊNCIA NA ÁSIA

Dois anos e meio depois da crise mexicana, a desvalorização da moeda tailandesa veio lembrar o óbvio: não é possível financiar déficits externos indefinidamente. A Tailândia chegou a um déficit em conta corrente de 7,5% do PIB. No Brasil, esse indicador está em 4%.
Há poucos meses, o ministro Pedro Malan citava os novos "tigres" asiáticos como exemplo de que esses prolongados desequilíbrios não implicavam necessariamente grandes riscos. O argumento perdeu força.
É cedo para avaliar quais os impactos que a desvalorização tailandesa pode ter no Brasil. Isso depende dos desdobramentos na Tailândia e em países da região. A eventual desvalorização de outras moedas daqueles mercados emergentes poderia levar à retirada de parte dos recursos da América Latina, seja para cobrir perdas, seja por receio de uma propagação da incerteza. Mas, até o momento, esses reflexos parecem pequenos.
A importância do realinhamento cambial tailandês ainda está principalmente nas lições que ele sugere. A Malásia, a Coréia do Sul, as Filipinas e a própria Tailândia têm indicadores melhores que os do Brasil.
As contas públicas dos "tigres" asiáticos estão próximas do equilíbrio (a Tailândia tem superávit), as dívidas externas em relação ao volume das exportações são menores e suas economias crescem a taxas elevadas. Mesmo assim, a Tailândia não conseguiu evitar a desvalorização quando o mercado se convenceu de que o déficit externo era excessivo e a taxa de câmbio era insustentável.
O episódio também sugere uma comparação com o México. No ano eleitoral de 94, o governo mexicano defendeu a taxa de câmbio até que acabassem as reservas. Quando já não tinha como resistir, a desvalorização veio e chegou a 100%. A Tailândia, diferentemente, desvalorizou com US$ 30 bilhões em caixa. O câmbio perdeu 20%. Se a economia tailandesa apresentar uma recessão menor que a do México e uma taxa cambial sob maior controle, surge um exemplo contrário à defesa doutrinária da valorização.

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