São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Filósofos relutam em aceitar 'aplicação'

CLÁUDIA COLLUCCI
DA REDAÇÃO

A atuação dos filósofos clínicos provoca divergências até mesmo entre os companheiros de profissão. Alguns consideram absurda a idéia de um filósofo clinicar.
É o caso do professor de ética e filosofia política Milton Meira do Nascimento, 50, do Departamento de Filosofia da USP.
Para ele, o filósofo não pode ser a chave de solução de nada, muito menos assumir o papel de clínico. "Um curso de especialização não habilita ninguém a ser clínico. Isso é uma deformação da filosofia."
Nascimento afirma que os problemas existenciais ou as neuroses de uma pessoa precisam ser tratados por especialistas. "Se um aluno chega à minha sala e diz que está deprimido, mando procurar um analista."
Para o professor, o filósofo é um ser crítico, questionador, que trabalha com questões mais amplas da existência humana.
O professor Bento Prado Júnior, do Departamento de Filosofia da UFSCar (Universidade Federal de São Carlos), não considera absurda a idéia das clínicas filosóficas, mas também não consegue imaginar como o trabalho vai funcionar na prática.
"A filosofia sempre teve essa dimensão clínica. Sócrates tinha uma atividade dialógica, com dimensões éticas e clínicas."
Embora não conheça o trabalho dos filósofos clínicos, a professora Olgária Matos, 48, do Departamento de Filosofia da USP, considera que a iniciativa é correta e bem-vinda.
"Não me parece nem um pouco fora do espírito filosófico. Se o trabalho for realmente sério, só a população tem a ganhar com isso."
Segundo Olgária, toda a história da filosofia está voltada para a questão do consolo, da tentativa do ser humano de resolver seus conflitos existenciais. "A filosofia nasceu como medicina da alma."
O professor Renato Janine Ribeiro, também do Departamento de Filosofia da USP, não conhece o trabalho dos filósofos clínicos e por isso prefere não opinar sobre o assunto.
"Não sou a favor nem contra. Em princípio acho interessante tudo o que não é convencional." Janine Ribeiro acha, entretanto, que o tempo do curso não é suficiente para a formação clínica.
Para a psicanalista Miriam Chnaiderman, que também estudou filosofia, só a filosofia não habilita ninguém a ser terapeuta. "Creio que ser terapeuta demanda uma formação cuidadosa, permanente, atenta."

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