São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Um PM fica deficiente por semana em SP

MARCELO RUBENS PAIVA
ESPECIAL PARA A FOLHA

A APMDFESP (Associação dos Policiais Militares Deficientes Físicos do Estado de São Paulo) contabiliza que, entre 1970 e 1996, 1.320 policiais tenham adquirido algum tipo de deficiência.
São hemiplégicos, paraplégicos, amputados, vítimas de armas de fogo, quedas em treinamento, atropelamento ou capotamento de viaturas.
Os dados não estão completos. Em média, a PM de São Paulo "fabrica" um policial deficiente por semana. E o mais grave: a maioria das lesões poderia ser evitada se o uso de coletes à prova de balas fosse uma norma.
"Os PMs com lesão medular que atendi levaram tiros na região peitoral. Tais tiros visavam o coração. Um colete teria evitado a lesão", afirma Maria Eugênia Casalis, supervisora da AACD (Associação de Assistência à Criança Defeituosa).
Segundo estudos da AACD, 40% dos traumas medulares da década passada eram gerados por acidentes de trânsito e 20% por armas de fogo. Hoje, o número se inverteu.
"O policial deficiente deixa de progredir na vida. Dependendo do caso, ele tem uma diminuição no salário, que já é miserável, fica sem promoção, sem as diárias e insalubridade. E é a família que tem de cuidar dele", diz o tenente José Roberto Pinatti, presidente da APMDFESP, paraplégico há 27 anos (levou seis tiros).
"Nos treinamentos, não existe nenhum curso de prevenção. Só quando fui baleado é que me toquei", lembra Pinatti.
"Criamos a associação para cobrir uma lacuna do Estado, que não dá amparo legal. Queremos dar assistência médica, educação e um novo rumo profissional aos policiais deficientes. A PM encosta os deficientes", completa Pinatti.
"Um terceiro-sargento para baixo não sobrevive como deficiente. A orientação e atendimento num guichê da PM é ruim. Queremos cobrar direitos da lei que o Estado não cumpre", explica o tenente Sebastião Alves da Silva, segundo secretário da APMDFESP, hemiplégico há 27 anos (acidente no treinamento).
Legislação
A lei 5.451, de 1986, garante ao policial acidentado o direito de receber como se tivesse trabalhado por 30 anos.
"O problema é que a lei discrimina os que sofreram acidente na folga. Mas muitos policiais recebem tiros de traficantes em casa. Outros interferem em brigas na vizinhança. Pela Constituição, somos policiais as 24 horas do dia", diz Alves.
"Temos colegas que ficaram deficientes manuseando a arma em casa. A arma é carga da PM. Temos de levar a arma para casa. Sofremos discriminação no bairro. Temos de estar sempre atentos", completa Alves.
O soldado Daniel Garcia Gomes, 33, paraplégico desde 93, estava numa festa com outros PMs. Levou um tiro acidental ao brincar com a arma. Ficou sem a promoção. "Tenho vontade de trabalhar, mas não tenho oportunidade. Se eu ficar em casa, fico louco", diz.

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