São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Bolsa está mais técnica, dizem executivos

GABRIEL J. DE CARVALHO
DA REDAÇÃO

Na última quarta-feira, o Índice Bovespa -que mede a evolução das 47 ações mais negociadas em São Paulo- bateu recorde histórico ao atingir 13.259 pontos -superado já nos dias seguintes. Atualizado pelo IGP-DI, superou o recorde anterior, no Plano Cruzado.
A lembrança do Cruzado, se mostra a força atual do mercado, também assusta. Depois de superar naquela época 13.000 pontos a valores de hoje, a Bolsa despencou.
Marcelo Giufrida, vice-presidente do Banco CCF Brasil, lembra que no Cruzado todo mundo entrou e saiu da Bolsa ao mesmo tempo. Hoje é diferente, avalia.
O mercado se modernizou com a vinda dos investidores estrangeiros e está mais preparado para absorver quedas. Os fundos se sofisticaram e a economia está mais estabilizada, diz ele.
O fôlego das Bolsas em 96 e 97 tem fundamentos técnicos, destaca Alexandre Zakia, diretor do BFB. A inflação caiu, os juros também, e vêm aí mais privatizações.
No caso das estatais, lembra, a subida de preço está muito relacionada à recomposição das tarifas, com reflexo na lucratividade. "A Bolsa não sobe mais, como no passado, sob influência de poucos especuladores", diz ele.
Ibrahim Eris, ex-presidente do Banco Central e administrador dos fundos Linear, concorda que o mercado hoje é mais técnico e diz que está havendo uma reorientação do portfólio dos investidores.
O fato de o mercado estar se solidificando vai propiciar, daqui a algum tempo, a emissão de ações de novas empresas, diz ele. "É um processo, não é para já", ressalva.
O cenário econômico, para Zakia, é positivo. Até mesmo a situação das contas externas não é tão grave, diz. A confiança dele se assenta na qualidade dos capitais que financiam o rombo.
Em 1995, argumenta, o déficit em transações correntes fechou o ano na casa dos US$ 18 bilhões, com 85% sendo financiados por capitais especulativos.
A previsão para 1997 é de um déficit de US$ 33 bilhões, porém com uns US$ 22 bilhões sendo cobertos por investimentos estrangeiros diretos, em Bolsa e na privatização.
Mesmo quem entrou na Bolsa há mais tempo com 20% do disponível e hoje isso já representa 40% pode pensar em "realizar lucro" e voltar a uma exposição de apenas 20% ao risco, aconselha.
E se a Bolsa cair?
Zakia admite que a forte presença de pessoas físicas torna o mercado de ações mais sensível.
Giufrida concorda, mas acha que há ocorreu um aprendizado. Se houver "realização de lucros" mais intensa será rápida, prevê.
Eduardo Santalucia, do Sudameris, também considera imprevisível a reação desses novos investidores se a Bolsa cair por um ou dois meses, levando junto as cotas dos fundos. Apesar disso, está convicto de que pelo menos 8% líquidos -o que se prevê para os juros neste segundo semestre- o investidor tem garantidos.
"Hoje o investidor precisa olhar os papéis de forma diferente", explica Randolph Haynes, diretor da Corretora Coinvalores, citando o caso do PL (preço/lucro), indicador de quantos anos alguém demora para recuperar o dinheiro investido na compra de uma ação.
No passado eram normais PL 4 a PL 5. Agora já se pode falar em PL 15 ou 20. "É hora de o investidor pensar em viver de dividendos."
Haynes admite que hoje o preço de muitas ações em Bolsa supera o valor patrimonial (extraído do balanço). Mas pondera que a empresa pode estar subavaliada.
A análise, acrescenta, deve ser ampla. Cita, para exemplificar sua tese, Elevadores Atlas e Ericsson, cujos papéis em Bolsa estão cinco ou seis vezes acima dos respectivos valores patrimoniais.
A Atlas tem 30% do mercado de elevadores e a Ericsson é uma das empresas mais preparadas para atender à expansão das telecomunicações, argumenta.
Mas quem entra na renda variável deve ter em mente a diversificação e o longo prazo, aconselha. "Saber que envolve risco e não é renda fixa", adverte.

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