São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Indústria supera fase derrotista

CRISTIANE PERINI LUCCHESI

CRISTIANE PERINI LUCCHESI; JOÃO CARLOS DE OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Convive-se com 'custo Brasil'

"No início, achava-se que a fórmula juro alto, câmbio valorizado e abertura iria levar a indústria à hecatombe, com devastação geral dos setores têxtil, de calçados, brinquedos, autopeças e máquinas. A indústria realmente pagou alto preço, mas os setores já apresentam recuperação."
As palavras de Boris Tabacof, da Fiesp, apontam a nova fase, após rearranjos no setor industrial.
Mesmo ainda reclamando do "custo Brasil", juros, câmbio valorizado e pressionando pelas reformas, os industriais estão mais otimistas. Aprenderam a conviver com a nova realidade.
O crescimento do mercado interno, fluxo de investimentos ao país, início de recuperação nas margens de lucro e políticas pontuais de "socorro" do governo e do BNDES ajudam.
O setor de brinquedos é um exemplo. Em 94, 520 fábricas faliram, mudaram de ramo ou fecharam, diz Synésio Batista da Costa, da Abrinq. Após o aumento nas alíquotas de importação, o setor começou a se reerguer.
"Com o fim da inflação, ganhamos 5 milhões de novos consumidores de brinquedos. Vamos continuar a reduzir preços para ganhar mais mercado", diz.
Para este ano, a meta é crescer a produção de 180 milhões de unidades para 200 milhões. O faturamento, calcula Synésio, sobe 6%.
O setor de tintas e vernizes também não tem do que reclamar. Estimulado pelo crescimento das vendas de automóveis, eletrodomésticos, móveis, embalagens, pelo boom das pequenas reformas da construção civil, o mercado cresceu 6% em 96, diz Roberto Ferraiuolo, do sindicato do setor.
"Não é à toa que estamos vivendo um período de muitos investimentos externos. A ICA comprou a Coral, a PPG anunciou US$ 100 milhões em gastos no país. Se o setor não estivesse bem, ninguém viria para cá", diz ele.
O setor mais encrencado continua o de bens de capital. "Com condições de crédito completamente desfavoráveis frente ao mercado internacional, o setor de máquinas vive uma desindustrialização muito forte", diz Horácio Lafer Piva, da Fiesp.
O setor têxtil e de vestuário, acredita Piva, também vai "sofrer para recuperar margem". Segundo ele, o nível tecnológico ainda é muito baixo para a maioria, na comparação com padrões internacionais, e a incorporação tecnológica é lenta.
O setor de autopeças, diz Piva, também ainda não completou sua reestruturação. "As montadoras tiveram uma posição muito radical com as empresas nacionais, jogaram muito com a possibilidade de importação."
Fernando Bezerra, presidente da CNI, acha que não há desindustrialização. "A indústria tem passado por um grande processo de ajuste", prefere dizer. Reclama que "os juros continuam exorbitantes e o câmbio, valorizado".
Mas Bezerra diz ter "notado" que o governo tem procurado estar mais atento ao processo de reestruturação. "A CNI, depois de uma série de discussões, chegou a 60 propostas para redução do 'custo Brasil'. Destas, 37 foram atendidas pelo governo em 97."
Micro e pequenas
Joseph Couri, do Simpi, diz que a micro e pequena indústria já conseguiu realizar sua ampla reforma tributária, por intermédio do Simples -imposto único. "A adesão já chega a 1,5 milhão", disse ele.
Mas ainda há problemas "dramáticos", como a falta de acesso ao crédito. "Os agentes financeiros não ajudam", diz ele.
Para Jorge Gerdau, do grupo Ação Empresarial, os empresários "perdem competitividade com impostos que continuam a incidir em cascata e estruturas, como as dos portos, que impedem o desenvolvimento".

Colaborou João Carlos de Oliveira, editor do Painel S/A

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