São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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Eficácia de tratamento depende do paciente

DA REPORTAGEM LOCAL

Os tratamentos para hipertensos negros e brancos podem ser diferentes e vão desde o tipo de medicação adotado até a orientação para mudanças no estilo de vida.
Um dos principais problemas apontados pelos cardiologistas em relação a pacientes negros é a dificuldade de eles aderirem ao tratamento. Aderir ao tratamento sigbifica seguir as orientações e ações determinadas pelo médico.
Segundo o professor-adjunto de Clínica Médica da Universidade de Nova Orleans Keith Ferdinand, os negros encontram impedimentos sociais para seguir o tratamento.
"Os negros norte-americanos têm problemas financeiros e nível educacional baixo. Preferem conselhos de pastores e familiares para o tratamento. Além de apontarem uma enorme dificuldade em abandonar hábitos indesejáveis."
Para o jamaicano Terrence Forrest, professor na Universidade de West Indies, Jamaica, as dificuldades são as mesmas. "Na Jamaica, apesar de a prevalência ser um pouco menor, os doentes deixam de seguir o tratamento. Principalmente porque não podem comprar os remédios", diz ele.
Segundo a vice-presidente da Liga Bahiana de Hipertensão, Lucélia Magalhães, o quadro no Brasil também é parecido. "Na Bahia, o sistema de saúde é ineficiente, não atende as camadas mais pobres. Na Bahia, existe tanto a falta de aconselhamento médico quanto um estilo de vida que é difícil de ser modificado."
EUA
Os negros norte-americanos têm um outro agravante para a hipertensão: a obesidade. "O negro americano come muito e mal. Ingere muita gordura e sal. É sedentário e tende a ser alcoólatra. O que só dificulta o tratamento", diz Ferdinand.
"A obesidade não chega a ser um problema na Jamaica. A falta de serviço de saúde é mais grave", afirma Forrest.
Um outro fator também se aplica à população negra mais que a branca. Nem todo o doente hipertenso sabe que está doente. "Muitos brancos não estão diagnosticados, bem como muitos negros. Mas na população negra o desconhecimento é maior. Primeiro porque está mais distante dos hospitais. Segundo porque tem naturalmente desconfiança deles", diz Ferdinand.
Novo estudo
Uma tentativa de aproximar mais a comunidade negra dos tratamentos anti-hipertensivos está sendo realizada pela professora-titular de clínica da Escola de Enfermagem da Universidade Johns Hopkins, em Baltimore (EUA).
Martha Hill prepara o acompanhamento de jovens negros diagnosticados como hipertensos por cinco anos para testar a eficácia do tratamento.
"O primeiro passo foi perceber que não estávamos dando atenção ao nosso paciente. Falávamos em hipertensão e pressão arterial como se todos entendessem. O que não é verdade", disse ela.
A professora mudou de estratégia. Passou a explicar cada passo de uma medição de pressão. Ensinou ao paciente com achar o próprio pulso e sentir a pressão do sangue nas artérias e mostrou a importância de controlá-la.
"A adesão ao tratamento cresceu imediatamente. Mesmo os jovens voltavam ao hospital para checar a pressão", disse Martha. Os resultados do estudo só ficam prontos no próximo milênio.

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