São Paulo, domingo, 6 de julho de 1997
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As oposições mudam o discurso

LUIZ CARLOS SANTOS

Três anos depois do lançamento do Plano Real, constata-se hoje quanto estavam certos aqueles que apostaram no seu sucesso -fundamentalmente, na sua capacidade de reverter um quadro de inflação crônica que só favorecia as instituições financeiras e os grandes aplicadores, em detrimento das camadas mais pobres e dos assalariados de um modo geral.
Desde o nascedouro do Plano de Estabilização Econômica, quando estavam sendo feitas as primeiras articulações para sua aprovação -das quais tive a honra e a satisfação de participar, como líder do governo na Câmara-, muitos absurdos foram ditos sobre o alcance das medidas e os objetivos a que se propunham.
Os discursos mais radicais da oposição acusavam o plano de eleitoreiro e demagógico e garantiam o seu fracasso para os primeiros meses depois das eleições presidenciais de 1994. De forma mediúnica, enxergavam a volta da inflação, a queda do poder aquisitivo dos assalariados, o descontrole das contas públicas, enfim, a recessão.
Os ferrenhos adversários não percebiam, naquela época, e não percebem ainda hoje, que o Plano Real era uma construção política democrática, feita por meio de amplo debate no Congresso Nacional, o que por si só já lhe garantia credibilidade e solidez.
Hoje, os números estão aí, a desmentir os pessimistas de plantão. Em três anos de estabilidade da moeda, mais de 13 milhões de brasileiros ultrapassaram a linha da pobreza. Os salários tiveram um crescimento real, em média, de 30%. E a inflação, aquele dragão indomável que, à época do lançamento do plano, atingia a casa de 5.000% ao ano, deverá ficar neste ano em torno de 7%.
Poderíamos citar uma série de conquistas obtidas nos últimos três anos, que vão da queda nas taxas de mortalidade infantil ao crescimento da confiança do investidor estrangeiro em nossa economia, mas não é esse o objetivo deste artigo.
Preocupa-me mais o aspecto político que gravita em torno da estabilidade da moeda. Os partidos de oposição começam a ensaiar um discurso em que se colocam favoráveis à estabilidade, mas, ao mesmo tempo, estariam, daqui para a frente, aptos a denunciar o desemprego, a questão cambial e as taxas de juros.
Ora, como já foi dito acima, esses mesmos partidos de oposição se colocaram sistematicamente contra o Plano Real, quando ele estava em debate no Congresso. Não eram contrários a esse ou aquele ponto do plano, mas sim à proposta em si, pois a consideravam um retrocesso em todos os aspectos.
Passados três anos, depois que as pesquisas de opinião mostram índices de aprovação do Real próximos a 80%, as oposições aparecem como defensoras do plano e capazes até de oferecer novos rumos para o país. Mas, assim como no passado, elas caem novamente em contradição -aliás, as mesmas contradições que as perseguem desde a elaboração da Constituição de 1988, que permitiu o engessamento de um modelo político-econômico-social falido e em completo descompasso com as sociedades modernas.
As oposições negam, agora, também de forma sistemática, as reformas administrativa, da Previdência e tributária, assim como negaram a reforma da ordem econômica e a do ensino fundamental.
Negam, em última instância, o corte definitivo de privilégios acumulados e o direito de municípios, Estados e União de terem poder para controlarem suas contas e, consequentemente, readquirirem a capacidade de investir em saúde, educação e segurança pública.
Mas elas não se contentam em condenar apenas as reformas. Atacam também as privatizações de setores em que a presença do Estado tem papel meramente empresarial. Novamente a contradição aflora, porque essas privatizações trazem investidores para o país, ajudam a combater o déficit público e a reduzir as taxas de juros.
Diante de tantas contradições, é preciso questionar esse repentino apoio das oposições à estabilidade da moeda. Por que só agora, quando estamos a um pouco mais de um ano das eleições? Será que agora o Real deixou de ser uma medida demagógica e eleitoreira? Por que as oposições não apóiam as reformas e as privatizações, que vão dar continuidade ao Real e garantir a retomada do desenvolvimento sustentado, sem juros altos e com mais emprego? Têm elas uma proposta alternativa?
Essas preocupações não são apenas minhas, mas também dos eleitores que vão às urnas no ano de 1998. Deverão ser respondidas no voto. A conferir.

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