São Paulo, segunda-feira, 7 de julho de 1997
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Os discos mais importantes de cada ano nas três últimas décadas

. 1967 - "Sgt. Pepper's Lonely Hearts Club Band"
The Beatles
Ruídos cotidianos, fitas tocadas de trás para a frente, música indiana, fanfarra de colégio... Há de tudo um pouco no disco em que os Beatles exercitaram seu experimentalismo ao máximo. O grupo estava influenciado pelas letras complexas de Bob Dylan e pelo álbum "Pet Sounds", dos Beach Boys, que já trazia esquisitices de estúdio.

. 1968 - "Truth"
Jeff Beck Group
Uma banda que reunia o virtuosismo de Beck na guitarra, o vozeirão rasgado de Rod Stewart e o boa-praça Ron Wood no baixo. Foi o primeiro surpergrupo do rock a implodir pelo choque de egos.

. 1969 - "Tommy"
The Who
Pete Townshend usou a figura do menino cego, surdo e mudo para recontar sua própria história de garoto feio e pobre que encontrou a redenção no rock. Música de primeira e a criação do formato ópera-rock, que seria repetido à exaustão por outras bandas nos anos seguintes.

. 1970 - "Led Zeppelin 2"
Led Zeppelin
Nesse segundo álbum, o grupo de Jimmy Page inventou o heavy metal, com frases de guitarra curtas e distorcidas. Clássicos como "Whole Lotta Love" e "Moby Dick" foram imitados por uma década inteira.

. 1971 - "Sticky Fingers"
Rolling Stones
Capa assinada por Andy Warhol (aquela com a foto da braguilha de Mick Jagger, com um zíper de verdade na capa do bolachão); a primeira canção explícita sobre drogas ("Sister Morphine"); o melhor dos Stones em rocks ("Bitch", "Brown Sugar") e baladas ("Wild Horses", "Dead Flowers"). Precisa mais?

. 1972 - "Dark Side of the Moon"
Pink Floyd
Ficou 20 anos entre os 200 álbuns mais vendidos na Grã-Bretanha, recorde absoluto. Representa o apogeu do rock progressivo, com músicas complexas, que exploram todos os recursos disponíveis nos estúdios na época para criar ambientes sonoros para o ouvinte. A faixa "Money" trouxe um fraseado de baixo inimitável, que virou marca registrada de Roger Waters.

. 1973 - "Kiss"
Kiss
O disco de estréia da banda que uniu o heavy metal ao universo da ficção científica e dos quadrinhos. Seu maior mérito é justamente ter atraído uma faixa de público mais jovem ao rock. As músicas são energéticas e extremamente simples, como o hino "Rock And Roll Nite", tocada com apenas três acordes.

. 1974 - "Too Much Too Soon"
New York Dolls
Essa banda era uma apenas uma cópia andrógina dos Rolling Stones, com os medíocres e maquiados David Johanssen (vocal) e Johnny Thunders (guitarra) como uma caricatura de Jagger & Richards. No entanto, o álbum é cru até o osso, o protótipo do punk. Os NYD foram empresariados pelo mesmo Malcolm McLaren que depois acertaria a mão com os Sex Pistols.

. 1975 - "Born to Run"
Bruce Springsteen
Com o pop perdido entre a pompa do progressivo e os limites do heavy metal, Springsteen resgatou a verve dylanesca do gênero, contando histórias de párias da sociedade americana emolduradas por músicas de tom épico. A faixa-título é constantemente votada pela crítica dos EUA como a melhor canção de rock da história.

. 1976 - "Horses"
Patti Smith Group
Poeta e artista performática, Patti Smith injetou pretensão artística ao rock. Protegida de Andy Warhol, ex-namorada do fotógrafo Robert Mapplethorpe e do escritor Sam Sheppard, em seu álbum de estréia ela canta rocks pesados e versos inspirados nos poetas malditos franceses, como Rimbaud e Baudelaire.

. 1977 - "Never Mind the Bollocks... Here's the Sex Pistols"
Sex Pistols
Primeiro álbum do punk inglês, chamando a rainha de fascista (na faixa "God Save the Queen") e atacando a sociedade conservadora do país ("Anarchy in the U.K."). É um manifesto niilista e anarquista em formato de rock de garagem, simplório e tocado de maneira tosca, sem preocupação com a técnica. Foi uma resposta ao complexo rock progressivo que dominava as parada.

. 1978 - "Parallel Lines"
Blondie
A força do punk não era suficiente para ganhar espaço no mercado entafulhado de disco music. O guitarrista Chris Stein sabia disso e incluiu entre os bons rocks desse disco do Blondie uma música que se tornaria clássico das pistas: "Heart of Glass". Isso garantiu o sucesso e a continuidade da carreira do Blondie, um dos baluartes da new wave -o pós-punk levemente dançante.

. 1979 - "London Calling"
The Clash
Com o fim dos Pistols e a morte de Sid Vicious, o punk teria acabado como um fenômeno fugaz se não fosse esse álbum duplo. Enquanto as letras mostram toda a militância anarquista da banda, as canções fazem um releitura punk de rock, rockabilly, surf music, reggae, jazz, country e funk. Para a revista "Rolling Stone", o disco da década.

. 1980 - "Back in Black"
AC/DC
Primeiro disco de rock pesado a atingir o topo da parada dos EUA desde "Hotter than Hell", do Kiss, em 74. Isso revitalizou o gênero para a década de 80. A faixa-título é praticamente um funkão, antecipando o mix funk-metal que ganharia força seis anos depois com bandas como Red Hot Chili Peppers. A bíblia metálica "Kerrang" elegeu "Back in Black" o melhor disco pesado da história.

. 1981 - "Rio"
Duran Duran
A consagração da primeira banda 100% dependente do videoclipe. Para divulgar o álbum, o DD gravou clipes para todas as faixas, cada um em uma locação exótica do planeta, tipo Tailândia ou Srilanka. MTV à parte, o disco sintetiza o melhor do gênero new wave, rock dançante que mistura guitarras com batida eletrônica.

. 1982 - "Thriller"
Michael Jackson
Tem as doses certas de suingue em baladas e funks, mas seu sucesso veio dos clipes revolucionários, principalmente o épico de terror "Thriller", com quase 15 minutos. Álbum mais vendido da história, com mais de 40 milhões de cópias. Além de transformar Jackson no maior astro pop do planeta, elevou os investimentos das grandes gravadoras nos discos. Antes dele, vender 3 milhões de cópias era considerado um fenômeno. Depois, passou a ser a obrigação dos artistas top.

. 1983 - "1999"
Prince
Um álbum duplo que reinventou o funk para os anos 80. Tocando todos os instrumentos, Prince usou a guitarra para criar pandemônios dançantes. Comparando, é como se Jimi Hendrix resolvesse dedicar seu gênio às pistas. Faixas como "1999" e "Little Red Corvette" agradam a roqueiros e funkeiros.

. 1984 - "The Unforgettable Fire"
U2
O disco que transformou o U2 na maior banda de rock do mundo. A militância politicamente correta e o rock cru dos primeiros álbuns deu lugar a canções mais delicadas e envolventes. Foi a moldura encontrado pelo produtor Brian Eno para as novas letras de Bono, que declaravam seu amor à América.

. 1985 - "Like a Virgin"
Madonna
Musicalmente falando, tem apenas baladas melosas e alguns hits dançantes. No entanto, ganha importância como o disco que detonou o fenômeno Madonna, que fez meninas do mundo todo assumirem seu lado "Material Girl". Nos anos seguintes, as atitudes da pop star teriam cada vez reflexos no comportamento jovem.

. 1986 - "The Queen is Dead"
The Smiths
O grupo que melhor cantou as angústias da adolescência fez sua carreira baseada em singles. "The Queen is Dead" é o único álbum da banda de Morrissey e Johnny Marr que não parece apenas um amontoado de boas canções, mas um trabalho fechado, um torpedo contra o cinismo da sociedade britânica. A rainha, as rádios, a igreja, a homofobia, o rigor das escolas... Tudo é detonado por canções belíssimas, como a clássica "There's a Light That Never Goes Out".

. 1987 - "Licensed to Ill"
Beastie Boys
Se o rap é hoje talvez a mais forte manifestação de cultura negra no mundo, os maiores responsáveis por isso são três branquelos judeus de Nova York. Os Beastie Boys venderam 4 milhões de cópias desse álbum de estréia, que foi o primeiro disco de rap comprado por milhares de brancos. Esses compradores passaram a se interessar pelos outros artistas do estilo e isso deu força mercadológica para consolidar o rap. Sem o hip hop escrachado dos Beasties, o ritmo continuaria no gueto. E "Licensed to Ill" é uma paulada sonora.

. 1988 - "Apettite For Destruction"
Guns N'Roses
Um guitarrista-solo virtuoso (Slash), um compositor hitmaker (Izzy Stradlin) e um vocalista carismático (Axl Rose). Esse trio, movido a couro, tatuagens, bebedeiras e hard rock de primeira, transformou o Guns no grupo mais quente da virada da década. Politicamente incorretos, destratando mulheres, negros e homossexuais em suas letras, venderam uma imagem rebelde e viraram alvo dos pais conservadores.

. 1989 - "Doolittle"
Pixies
Da primeira leva de grupos alternativos que deixaram as rádios universitárias dos EUA para ganhar o mainstream, o Pixies foi aquele que não fez concessões -ao contrário do também importante Sonic Youth. "Doolittle" traz guitarras espaciais, as letras românticas esquisitas de Frank Black e a sorridente Kim Deal no baixo.

. 1990 - "The Real Thing"
Faith No More
Enquanto o Red Hot Chili Peppers não conseguiu escapar dos limites da fusão metal-funk, o Faith No More foi além, agregando ecos de rock progressivo, Frank Zappa e até soul music em seu caldeirão de sons. Para ajudar, há o carisma do vocalista maluquete Mike Patton e os clips bem bolados.

. 1991 - "Out of Time"
R.E.M.
Depois de dez anos de sucesso na América, período no qual foram apontados várias vezes como a maior banda dos EUA por todas as revistas especializadas do país, a trupe do vocalista Michael Stipe ganhou o sucesso planetário com "Losing My Religion", "Shinny Happy People" e "Radio Song". Rock simples, sem firulas, e muito bom.

. 1992 - "Nevermind"
Nirvana
O disco que virou o mercado fonográfico de pernas para o ar. Com pouca grana, três caras de Seattle gravaram um disco de rock cru e vigoroso e venderam 5 milhões de cópias em um ano. Transformou Kurt Cobain num mito e abriu as portas das grandes gravadoras para todas as guitar bands dos EUA. Isso quebrou os conceitos de rock "alternativo" e "mainstream".

. 1993 - "Mellow Gold"
Beck
Um loiro nerd que passou a adolescência trancado no quarto gravou o disco do ano, tocando todos os instrumentos. Sua mistura brilhante de rock, hip hop, folk, funk e country deu a ele o rótulo de "Prince branco", mas logo Beck mostrou que era muito mais do que isso. O hit "Loser" virou hino da geração Beavis.

. 1994 - "Dookie"
Green Day
Quem ligou o rádio durante o ano não ficou ser ouvir "Basket Case", o megahit da temporada. Hardcore raivoso, porém sanitizado, que iniciou o sucesso do punk dos anos 90 -Green Day, Offspring, Rancid... O trio de cabelos coloridos suportou as comparações desfavoráveis com o Clash e cavou lugar no panteão pop.

. 1995 - "(What's the Story?) Morning Glory"
Oasis
A banda britânica de maior sucesso desde os Beatles ganhou o mundo com seu segundo álbum, que já vendeu mais de 15 milhões de cópias. Reúne canções que grudam no ouvido e na primeira audição soam simplórias, mas têm harmonias extremamente complexas. Faixas que chegaram ao topo das paradas: "Some Might Say", "Champagne Supernova", "Don't Look Back in Anger" e o hino "Wonderwall".

. 1996 - "Jagged Little Pill"
Alanis Morissette
O disco de estréia com a maior vendagem da história do pop: 22 milhões de cópias. A receita do sucesso de Alanis é seu despojamento. Trata-se de uma garota americana típica que canta com garra no palco e escreve versos intimistas com aquilo que toda garota pensa, mas tem medo de falar. Além da identificação total com os fãs, tem um grande vozeirão.

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