São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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Presidente ameaça prefeitos e parlamentares com cortes

VALDO CRUZ; LUIZA DAMÉ; VIVALDO DE SOUSA
DA SUCURSAL DE BRASÍLIA

O presidente Fernando Henrique Cardoso decidiu partir para ameaças na tentativa de aprovar o FEF (Fundo de Estabilização Fiscal) e as reformas administrativa e da Previdência.
Numa reunião de emergência com nove ministros, FHC ameaçou cortar emendas de parlamentares ao Orçamento e suspender a assinatura de convênios com prefeituras caso as três propostas não sejam aprovadas.
Durante o encontro, no Palácio do Planalto, o presidente pediu "empenho" a seus ministros para "ganhar" as duas votações na Câmara ainda nesta semana.
Antes da reunião ministerial, FHC já havia se reunido com seus líderes no Congresso para discutir as votações durante a convocação extraordinária do Congresso.
Segundo o relato de participantes dos dois encontros, o presidente disse que a demora na aprovação das três propostas coloca em risco a estabilidade do real.
A Folha apurou que o presidente considera "incrível" que algumas propostas demorem tanto tempo para ser aprovadas.
A reforma administrativa começou a ser votada no plenário da Câmara no dia 9 de abril. Até agora, o primeiro turno não foi concluído.
A reforma da Previdência foi aprovada pela Câmara em julho do ano passado e até hoje não foi votada na CCJ (Comissão de Constituição e Justiça) do Senado.
A ofensiva de FHC é ainda uma tentativa de demonstrar que o governo não desistiu das reformas. Principalmente depois que o ministro Sérgio Motta (Comunicações) lançou a proposta de plebiscito sobre as reformas políticas.
Indecisos
No encontro no Planalto, os ministros receberam uma lista de deputados indecisos e contrários às duas propostas para serem "trabalhados". Levantamento apresentado na reunião mostra que a maior parte dos parlamentares contrários ao FEF e à reforma administrativa está no PMDB e PPB.
O presidente se dirigiu diretamente aos ministros do PMDB, Iris Rezende (Justiça), Eliseu Padilha (Transportes) e Fernando Catão (Políticas Regionais).
"A bancada da Paraíba não pode continuar votando contra as propostas do governo", afirmou o presidente. Catão foi indicado pelo PMDB da Paraíba.
Na reunião com os líderes, o presidente disse que pediria aos governadores que participem do trabalho de convencimento dos deputados para aprovar a reforma administrativa e o FEF.
Fernando Henrique disse que a reforma administrativa vai possibilitar maior margem de manobra aos governadores para atender às reivindicações de aumentos salariais aos policiais, que começam a pipocar em todo o país.
Segundo os líderes, o presidente mostrou-se particularmente preocupado com a concessão de aumentos acima da inflação.
Geddel
"Vamos trabalhar para ganhar", afirmou o líder do PMDB, Geddel Vieira Lima (BA), logo depois da reunião com FHC.
"O momento é decisivo. Toda a ajuda é bem-vinda, seja dos governadores, seja dos ministros", afirmou o líder do PFL, Inocêncio Oliveira (PE).
O presidente relatou dados sobre a Previdência para convencer os líderes da importância de aprovar as reformas.
Segundo FHC, como a reforma ainda não foi aprovada, a Previdência deixou de arrecadar R$ 1,5 bilhão e teve um déficit de R$ 1 bilhão, o que resulta numa diferença de R$ 2,5 bilhões.
O relator da reforma da Previdência, senador Beni Veras (PSDB-CE), disse ontem que o parecer deverá começar a ser discutido na CCJ na próxima terça-feira.
(VALDO CRUZ, LUIZA DAMÉ e VIVALDO DE SOUSA)

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