São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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Neil Young revisa carreira em CD duplo

JOSEBA ELOLA
DO "EL PAÍS"

Neil Young, 52, continua fiel a si mesmo. Desafiando o tempo e as modas, continua tocando com paixão sua velha guitarra Ol'Black em "Year of the Horse", seu novo trabalho, um álbum duplo gravado ao vivo.
Ele e sua banda, Crazy Horse, são também protagonistas do filme "Year of the Horse", rodado por Jim Jarmusch, com uma câmera super-oito apoiada no ombro.
O diretor nova-iorquino, fã incondicional de Young, acompanhou a banda durante a turnê de "Broken Arrow", em 1996, que originou também o CD ao vivo.
Neil Young é um homem do interior, sossegado e corado. Mora com sua segunda mulher e os filhos Zeke, 24, que sofre de paralisia cerebral, Alan, 18, paraplégico e espástico, e Pegi, 13, em um paraíso nas montanhas, uma densa floresta de árvores de madeira vermelha a 70 km de San Francisco.
Durante sua infância -nasceu em Toronto, no Canadá-, sofreu de poliomielite, epilepsia, dores de ouvido e diabete. Em 32 anos de carreira, lançou 41 discos.
Com Crosby, Stills e Nash, mostrou seu lado folk; o Crazy Horse evidenciou sua veia roqueira. Passou pelos mais diferentes estilos: swing, rhythm'n'blues, tecno, jazz, country, punk, grunge.
Arredio à mídia, Young sempre fez as coisas do seu jeito. Na década de 80, sua gravadora na época, a Geffen, chegou a acusá-lo de querer destruir sua própria carreira.
Mas as coisas mudam. Agora ele concorda em ser entrevistado -mas apenas uma vez por ano, em entrevistas de meia hora que não o façam sair do local onde mora. Leia trechos a seguir.
*
Pergunta - Quando se fala de você, a palavra mais usada é integridade. Por que isso é algo tão extraordinário?
Neil Young - Não sei. Não sei o que responder.
Pergunta - A sociedade em que vivemos faz com que as pessoas percam sua integridade?
Young - Nesta sociedade há muitas opções. É possível fazer coisas aceitáveis de um ponto de vista social e desejáveis de um ponto de vista econômico, e também é possível seguir o curso da moda. Cada um escolhe seu caminho. Eu tento fazer só aquilo que está de acordo com meus sentimentos. De certa forma, acho que consigo articular isso.
Pergunta - Você se acha um camaleão?
Young - Já fui. Ou melhor, dou a impressão de ter sido. Mas, na verdade, sou mais uma serpente. Troco a pele, mas continuo sendo o mesmo, a mesma velha serpente. Quando olho para minha carreira, vejo muitas mudanças, mas a considero como uma coisa só.
Pergunta - É importante saber se adaptar, mudar?
Young - É importante saber estar na crista da onda, ser capaz de mudar, mas não mudar por mudar. Sempre há coisas que você quer manter. Se quiser mudar, mude, mas sem destruir tudo o que já fez. Não é um sistema perfeito, mas funcionou para mim.
Pergunta - A maior parte das músicas de "Year of the Horse" pertencem ao período 75-79. Esse foi seu período mais criativo?
Young - Foi muito criativo. Naquela época, éramos uma banda muito prolífica.
Pergunta - Você afirma que o sofrimento é a força motriz da criação, que quando está pior consegue compor melhores músicas. Foi assim nessa época?
Young - O sofrimento não é o único fator que contribui para a criatividade, mas é uma das coisas que a controla.
Pergunta - Você diz que é uma pessoa destrutiva. No entanto, se dedica a criar.
Young - Existe um caminho em que uma coisa não é possível sem a outra. Para chegar a algum lugar, há coisas que devem ultrapassar os limites, desviar-se da rota.
Pergunta - O que é necessário destruir?
Young - Eu não quero destruir nada. Destruição é apenas uma palavra. Mas eu percorro um caminho em que as pegadas que vou deixando são destruição. É assim que eu entendo a destruição.
Pergunta - O verso "é melhor se queimar que se apagar", de "Hey Hey, My My", foi a última coisa que Kurt Cobain escreveu antes de se matar. O artista percebe a possível repercussão de uma música?
Young - Cada um tem sua maneira de interpretar as coisas. O artista não pode prever o que vão pensar sobre o que ele escreve. Você pode interpretar esse mesmo verso de mil formas diferentes. Kurt pegou essas palavras e as adaptou à sua situação.
Pergunta - O que você sentiu quando soube do suicídio?
Young - Senti um grande vazio. De certa forma senti que havia sido derrotado. Mas também recebi energia, como se alguma coisa houvesse renascido dentro de mim, pelo fato de ele estar tão comprometido com fazer as coisas o melhor possível com sua música. Ele acreditava no que fazia. Mas não quero pensar mais nisso.
Pergunta - Você é considerado o padrinho do grunge. Mas também foi um dos primeiros a apoiar o movimento punk no fim dos 70. Como consegue servir de referência durante tantos anos?
Young - Não sei explicar. Minha música com o Crazy Horse pode estar relacionada com muitos estilos, mas não pertence a nenhum -é a nossa música.

Tradução Maria Carbajal.

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