São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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Herói se acomoda

PEDRO ALEXANDRE SANCHES
DA REPORTAGEM LOCAL

"Year of the Horse" pode ter anexada a si a frase de que Neil Young se esquivou com volúpia por toda a sua carreira: ele parece, afinal, estar se acomodando.
Young vem de bandas cruciais dos anos 60 -Buffalo Springfield e Crosby, Stills, Nash & Young- e, ao longo dos 70, já em carreira solo, lançou uma bateria de discos antológicos, um atrás do outro.
Aí vieram os 80, em que, percebendo a aridez do cenário, elegeu a contracorrente e lançou discos esquisitíssimos, em que viajou ao tecno ("Trans", 82), ao rockabilly ("Everybody's Rockin'", 83), ao country ("Old Ways", 85), ao blues ("This Note's for You", 88)... Eram soluções de caráter, indispostas a qualquer concessão. Young despia-se de sua persona para mantê-la intacta.
Aí, após novos clássicos instantâneos -"Harvest Moon" (92), "Unplugged" (93)-, houve sua adoção pela geração grunge e houve a morte de Kurt Cobain, embalada por um verso do velho Neil.
Em resposta, ele se retransformou, tornando-se um neogrunge dinossáurico. Após o inspirado "Sleeps with Angels" (94), dedicado a Cobain, continuou a fazer discos e discos de grunge.
"Year of the Horse" parece um acertar de contas histórico, num desfile de clássicos (a bela versão de "Mr. Soul", do Buffalo Springfield, "Danger Bird", "Pocahontas") e faixas obscuras retrabalhadas (as de "Life", de 87).
Mas não é. É, antes, uma coletânea grunge, que repete "Broken Arrow" e seu antecessor, "Mirror Ball" (95, com o Pearl Jam). E há um agravante: cada set é alongado, perdido em solos tão intermináveis quanto entediantes.
Parece só mais um disco feito para adolescentes gamados em grunge. Nada a estranhar, não houvesse Young sempre vomitado ao establishment, à sujeição às regras de mercado. Paradoxal que o grunge -o dito pop independente dos 90- tenha causado tal efeito ao eterno herói do rock'n'roll.

Disco: Year of the Horse
Com: Neil Young & Crazy Horse
Lançamento: Reprise (importado)
Quanto: R$ 46 (CD duplo)
Onde encontrar: London Calling (tel. 011/223-5300)

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