São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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AUTODESTRUIÇÃO

O Congresso Nacional parece empenhado em uma campanha de autodestruição de sua já precária imagem. É escandaloso o fato de ter sido convocado extraordinariamente neste mês de julho, para votar itens das reformas constitucionais, e não conseguir nem sequer instalar a sessão, quanto mais votar seja o que for.
Escândalo marcado por uma triste ironia: as reformas que deveriam ser votadas têm como finalidade última buscar o equilíbrio das contas públicas. Mas tudo o que se fez, até agora, foi gastar inutilmente dinheiro público com salários de parlamentares.
O que agrava ainda mais o escândalo é o fato de que o governo tem um elenco de líderes à disposição para organizar as votações no Congresso. É líder para a Câmara, líder para o Senado, líder para o Congresso, líder para cada um dos partidos governistas. Há até um ministro da Coordenação Política, sem contar o ministro das Comunicações, Sérgio Motta, que faz as vezes de articulador político informal.
O governo acaba, aliás, de designar líder o deputado Luís Eduardo Magalhães (PFL-BA), tido como um gênio do jogo político-parlamentar.
Nem com todo esse arsenal de lideranças e supostos talentos o Executivo consegue fazer com que as bancadas governistas, francamente majoritárias, dêem número ao menos para instalar a sessão.
Em qualquer outra atividade, quem é pago para trabalhar, mas não comparece ao trabalho, recebe uma punição. No Parlamento, não tem havido punição alguma, apesar de reiteradas demonstrações de um grupo de congressistas de pouco caso para com as suas funções.
O fracasso, até agora, da convocação extraordinária demonstra que essa conivência com os maus hábitos criou uma cultura de despudor, de desrespeito ao público. A impunidade parece estimular a manutenção dos mais lamentáveis costumes e acaba dando razão à desconfiança com que uma fatia substancial da população encara a atividade política.
Nem o mais feroz inimigo do Parlamento seria capaz de urdir uma conspiração tão eficaz para manchar a imagem de uma instituição indiscutivelmente essencial para a democracia.

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