São Paulo, quarta-feira, 9 de julho de 1997
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LIBERTAR A UNE

Ao longo de sua tumultuada história, a União Nacional dos Estudantes (UNE) tem oscilado entre os extremos da representação. Em alguns momentos críticos, como no crepúsculo do regime militar ou na campanha pelo impeachment de Collor, ela pareceu sintonizada com a vontade da maioria dos universitários. Na maior parte do tempo, porém, não poderia ser maior a distância entre a base estudantil e uma cúpula que não passa de marionete controlada por micropartidos de esquerda.
A razão desse comportamento esquizofrênico pode ser encontrada no modo de escolha de seus dirigentes. Superada há muito a fase das perseguições e da semiclandestinidade, por incrível que pareça a UNE ainda não adotou o salutar princípio da eleição direta. Durante congresso realizado em Belo Horizonte, pouco menos de 2.000 delegados acabam de homologar para o próximo biênio a chapa do PC do B, que se eterniza desde o começo da década no comando da entidade.
Pode-se perguntar o que a grande maioria dos estudantes tem a ver com o estatismo ultranacionalista do PC do B, corrente outrora ligada ao maoísmo e que hoje vegeta numa desimportância folclórica. São os cavilosos conchavos propiciados pela eleição indireta que permitem esse artificialismo na representação estudantil. A UNE se transformou em fantoche de um grupelho pouco interessado em ensino, pesquisa acadêmica ou capacitação profissional.
A crescente despolitização entre os universitários também é alimentada por esse estado de coisas. Somente um movimento que tenha por origem a base estudantil e por meta estabelecer eleições diretas poderá restituir à entidade o peso que ela já teve, afastando os manipuladores e devolvendo a UNE aos estudantes.

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