São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Agricultora que trabalhava em horta vê 'corpo vindo do céu'

Vítima do acidente cai a 50 m de Maria Aparecida da Costa

OTÁVIO CABRAL
DA REPORTAGEM LOCAL

Como faz diariamente há 30 anos, a agricultora Maria Aparecida da Costa, 47, acordou ontem às 6h e foi à horta da fazenda da Mandioca, em Suzano (Grande SP).
Mas, ontem, o trabalho na horta não foi interrompido apenas às 11h, para o almoço. Por volta das 8h40, um corpo "vindo do céu" caiu na mesma plantação de nabos onde Maria Aparecida trabalhava.
Era o corpo do empresário Fernando Caldeira de Moura, que havia caído segundos antes, do avião da TAM. Segundo Maria Aparecida, havia muita neblina no horário do acidente, impedindo que ela visse o avião.
"Estava muito frio e havia muita neblina. Aqui passa muito avião, mas hoje (ontem) não dava para vê-los, porque eles voavam por cima da neblina", contou.
Logo após ouvir uma forte explosão, ela viu algo "parecido com um boneco" caindo do céu.
"O barulho foi muito alto, muito mais forte que explosão de fogos de artifício."

Buraco
O corpo do empresário, então, passou "muito rápido" ao lado de onde Maria Aparecida trabalhava e caiu cerca de 50 metros à frente, levantando muita poeira e fazendo um buraco de aproximadamente meio metro de profundidade no chão da horta.
"Só quando caiu eu consegui perceber que era o corpo de um homem. Mas não tinha nada para fazer, ele já estava morto", relatou a agricultora.
O corpo do empresário caiu sentado e depois ficou deitado, com as costas encostadas no chão.
"Não saiu sangue do corpo. Ele tinha dois arranhões grandes no rosto e as pernas estavam quebradas. A roupa estava toda rasgada, a gravata fora do pescoço e ele tinha só um sapato."
Susto
Junto com o corpo, caíram vários pedaços de assentos e da fuselagem do avião. Mas, segundo Maria Aparecida, "cada coisa caiu para um lado e o corpo caiu mais rápido".
Após a queda, ela chamou seu marido e foi ligar para a polícia, que chegou em seguida ao local.
Maria Aparecida, após o acidente, afirmou que pretende esquecer tudo o que aconteceu ontem.
"Foi o dia mais horrível da minha vida toda. É horrível você ver um homem caindo do céu e não poder fazer nada para ajudá-lo."
Para esquecer, Maria Aparecida pretende voltar à roça, onde planta nabos e repolhos, junto com o marido e os dois filhos. Trabalhando todos os dias, inclusive domingos e feriados, a família consegue ganhar, no máximo, R$ 300 por mês.

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