São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Mãe quer deixar 3 filhos em entidade

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Uma combinação explosiva de fome, infortúnio, drogas e um aborto após três gestações estão fazendo a ex-doméstica Elisângela da Cunha Santana, 21, cogitar a possibilidade de entregar os três filhos, com idades que variam de 1 a 5 anos, para uma entidade pública.
"Não quero perdê-los, penso em deixá-los em algum lugar que possa ficar com eles em tempo integral e no qual eu possa visitá-los no fim-de-semana. Preciso trabalhar", afirmou.
Elisângela, que não sabe há quanto tempo está desempregada, vive com a mãe, Eunice Cunha Santana, 48, os três filhos e cinco irmãos num cômodo do casarão que foi de Santos Dumont, em Campos Elíseos (região central de São Paulo), invadido por um grupo de sem-teto no dia 9 de março.
O filho que abortou é fruto de um relacionamento rápido que teve após se separar do ex-companheiro, que está preso e é pai de seus três filhos -Tiago, 5, Willian, 3, e Wellington, 1.
Elisângela nega que tenha provocado o aborto. "Foi de repente, eu não tomei nada. Agora, estou morrendo de dor."
Crack
Pessoas ligadas a Elisângela, entretanto, disseram que ela resolveu interromper a gestação, então com dois meses, quando estava sob efeito de crack.
Ela nega também essas declarações de seus conhecidos. "Usei drogas por um tempo, mas parei."
O pai daquele que seria o quarto filho da moça não participou da decisão. "Não falei nada para ele, não. Sabia que ele jamais assumiria. Foi um namoro rápido. Sabia que não tinha futuro."
A gravidez foi fruto de uma relação sexual sem camisinha. "Costumo usar, mas todas as vezes que fiquei grávida foi porque não usei."
Comida
Quem cuida de arrumar alimentação para os filhos e netos é a mãe de Elisângela, que recebe R$ 120 de pensão.
Para piorar, Eunice também não pode trabalhar, pois afirma ter problemas de pressão alta.
"As crianças já passaram fome várias vezes. A gente faz o que pode. O que dá para conseguir, eu arrumo para eles", conta Eunice.
"Não neguei ajuda para minha filha, apesar das dificuldades, pois ela me ajudou muito no tempo em que ainda era casada. Estou apenas retribuindo o que ela me fez", declarou.
Doente
A mãe de Elisângela conta que a filha ainda não se recuperou do aborto e que sente muitas dores.
"Quero levá-la para um hospital ainda hoje (terça-feira) porque ela está muito fraca."
Elisângela diz que, depois que melhorar, vai sair para procurar emprego e um local onde possa deixar as crianças.

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