São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Grávidas decidem desistir de aborto

MARCELO OLIVEIRA
DA REPORTAGEM LOCAL

Quatro meses após ficar grávida, depois de perder a virgindade com um homem de quem não gostava, a baiana Joelma Aparecida Nogueira Moura, 22, largou o emprego de vendedora para vir a São Paulo conseguir dinheiro para um aborto.
"Estava desesperada. Não por estar grávida, mas por estar grávida de uma pessoa de quem não gostava", disse.
Ela diz que era virgem quando conheceu o ex-namorado, um homem de quem, afirma, nutria desconfiança após ele ter revelado que respondia a uma acusação por estupro.
Pouco tempo depois da primeira relação, Joelma descobriu que estava grávida.
"Fiquei desesperada quando soube, até que decidi ir para a casa de minha tia em São Paulo, conseguir um dinheiro e pagar o aborto", diz.
Demissão
Após conseguir um emprego de babá, sua patroa desconfiou que Joelma estivesse grávida.
"Disse para ela que estava e que só não abortara ainda por estar sem dinheiro."
A patroa a dispensou e pagou os direitos de Joelma. Com o dinheiro, amigos conseguiram para ela doses de Citotec, um remédio receitado para úlcera, contra-indicado para gestantes por ter propriedades abortivas.
"Tive a caixa do remédio na minha mão, mas não sei o que me deu. Não tomei nada. Acho que não era para abortar essa criança mesmo." Joelma está grávida de oito meses.
Nessa época, Joelma estava morando num quarto alugado de um casal que oferece vagas para estudantes.
Desespero
"Vivia chorando, desesperada, não sabia o que fazer. Até que uma amiga do casal me falou do Amparo Maternal, que atendia mães solteiras."
Quando entrou na casa, há pouco mais de um mês, Joelma pretendia dar o bebê para adoção.
Logo na primeira semana de internação numa das vagas oferecidas pela entidade para gestantes de risco social, Joelma restabeleceu contato com parentes.
"Minha mãe teve uma reação surpreendente. Ela até então não sabia de nada, mas, mesmo assim, veio para São Paulo me ver."
A mãe se ofereceu para cuidar do bebê esperado por Joelma, que deve nascer em julho.
"Desse jeito, vou poder trabalhar aqui ou lá e sustentar a criança", afirma ela.
O filho de Joelma será o primeiro neto de sua mãe e o primeiro bisneto de sua avó.
"Talvez, se fosse o segundo, ele não tivesse a mesma sorte, mas tudo bem."
Fora
"Ele falou para mim: 'você que se vire'." Foi com esta resposta que a babá Maria José dos Santos Silva, 20, foi dispensada pelo ex-namorado, quando ele soube que ela estava grávida.
"Ainda por cima, ele saiu espalhando para os amigos que o filho não era dele."
O ex-namorado sugeriu que Maria tomasse remédio para abortar. "Não quis, pois a minha idéia era dar a criança."
O que fez Maria, internada desde terça na Amparo Maternal, mudar de idéia foi uma carta que recebeu da mãe, pedindo para que ficasse com o bebê.
"Ela disse que eu poderia levá-lo para Alagoas para criá-lo junto dela", diz.

Amparo Maternal - r. Botucatu, 1.000, Vila Clementino - (011) 574-7756 e 574-8525. A entidade, que é uma maternidade, atende gestantes carentes e é mantida por doações e pelo SUS.

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