São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Construção de loja é um erro admitido

FREDERICO VASCONCELOS
DA REPORTAGEM LOCAL

Um erro admitido por Kasinski foi a construção, nos anos 50, de uma loja, na avenida São João, onde hoje funciona o Mappin. A loja, também chamada Três Leões, tinha pé-direito de 8 metros.
No início, ela vendia peças de automóveis. "Depois, como eu tinha mania de grandeza, fiz um elefante maior do que minha goela: passamos a vender produtos de caça e pesca, geladeiras e televisores."
A loja era moderna, o que assustava os mecânicos. Para desinibi-los, a Três Leões passou a vender as peças no porão, que antes servia de depósito.
Kasinski contratou um especialista em iluminação, que reproduzia no interior a luminosidade externa. Outra inovação: como a loja era grande, não queria vitrines; criou estantes com rodas, em baixo, cada uma para um produto, que eram mudadas a cada semana.
Abraham introduziu, assim, as típicas "semanas do tapete", por exemplo, um recurso usado tempos depois pelo Mappin. No Natal, a loja fazia um arco, atravessando a rua, sempre com tema dos leões.
Certa vez, Kasinski foi autuado pela Receita Federal, acusado de fazer contrabando. "Eu nunca contrabandeei nada. Nunca comprei mercadoria que não tivesse nota. Como nós éramos a maior organização, todo mundo oferecia primeiro para nós. Eu comprava tudo que era importado. Não me interessava como vinha a mercadoria. Havia sempre os bicheiros da vida que conheciam os jeitos de conseguir licença. Não estava preocupado se a licença havia sido obtida ou comprada."
O que fizeram em Manaus, durante muitos anos, Kasinski fez antes em São Paulo. Importava os componentes de televisores, vitrolas e geladeiras e montava, com a marca Bek (Bekgel, Beksom), em homenagem ao irmão, Bernardo.
"Tive que trocar a marca da empresa, pois fui autuado porque era um suposto fabricante."
"Depois nós passamos a vender tintas. Importava o pigmento, quem fazia o produto era a Coral, e eu vendia como tinta nacional. Era a Bekcor. Os fiscais vieram e disseram que eu também era contrabandista de tinta."
"Naquela época, a fiscalização era muito simpática, entrava na loja, punha dois revólveres e dizia: O senhor é ladrão e contrabandista e vai ter que provar que não é..."
A loja, segundo Kasinski, era muito frequentada por banqueiros e fiscais. Para não fiscalizar, os últimos levavam vestidos para as mulheres. Os banqueiros, presentes escondidos para as namoradas. A Três Irmãos era um estabelecimento comercial com bom cadastro bancário. Mas Kasinski detestava a vida dentro de uma loja.
Em 1960, Kasinski diz que perdeu tudo, com a inflação. Tinha um estoque lotado na Água Branca, num imóvel da família Maluf.
"Para não perder a Cofap, eu vendi tudo que tinha: casa, automóvel, aliança, jóias, tudo."
"Na década de 70, na fase áurea da Cofap, nós trabalhávamos três turnos, sábado e domingo. Aí nós começamos a ver que não podíamos ficar sozinhos no mercado. Mais cedo ou mais tarde, ia aparecer algum competidor para roubar metade do mercado. A solução foi abrir o mercado de exportação."
Hoje, a Cofap exporta para 97 países.
(FV)

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