São Paulo, quinta-feira, 10 de julho de 1997
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Uma decisão importante para o boxe

MATINAS SUZUKI JR.
DO CONSELHO EDITORIAL

Meus amigos, meus inimigos, foi uma sentença peso pesado.
O golpe mais duro que Mike Tyson levou em toda a sua carreira -e, talvez, a mais dura condenação imposta a um profissional do esporte.
Tyson recebeu a pena máxima da Comissão Atlética de Nevada: licença para lutar revogada, o teto estadual em multa pecuniária (10% da bolsa de US$ 30 milhões que receberia, mais todas as despesas da audiência de ontem).
Comentadores da televisão americana dividiram-se ontem sobre a punição: alguns acham que, como Tyson tem direito de recorrer à reconsideração da decisão após um ano, a pena é inferior a uma suspensão por três anos (no site da ESPN, 49,8% acharam a punição não suficiente; 12,1% acharam severa demais).
Outros opinam que Tyson não terá como provar, em 12 meses, dentro do ringue, que aceita as regras do jogo, uma vez que não poderá lutar nos EUA e dificilmente obterá licença para lutar fora daquele país (ainda cumpre a pena da condenação, por ter estuprado Desiree Washington).
Ontem, durante a audiência disciplinar, a comissão esportiva daquele Estado americano deu uma lição de civilidade ao mundo do esporte, lição que um dia, com pessoas mais íntegras, com leis melhores e com mais respeito a elas, a esfera esportiva brasileira aprenderá.
A audiência foi pública, aberta, transparente e transmitida pela televisão. O advogado de Tyson, Oscar Goodman (sobrenome curioso para quem defende um "bad boy"), e seu auxiliar tiveram toda a oportunidade para defender o parrudo cliente. Até amigos de Mike Tyson puderam (é verdade, depois da sentença ser declarada) pedir leniência à máxima punição para o lutador.
A defesa de Tyson foi pífia. Adotou a estratégia de que ele aceitava ser punido (evidentemente por uma pena menor), alegou que ele honrou o boxe por 13 anos, comparou com a quebra de regras em outros esportes e apelou para a independência do Estado de Nevada, que não se deixaria influenciar pela idéia da punição máxima inflada pela mídia (sempre ela, sempre ela).
Por seu lado, na acusação,
Gordon Fink fez uma réplica não decisiva para a sentença de ontem (a comissão parecida estar fechada, de antemão, com a idéia de punição máxima), mas para o próprio boxe como esporte.
Justamente por ser boxe, onde a fronteira entre o esporte e o caos é muito tênue, disse ele, é que a punição deve ser a máxima. Essa fronteira frágil, quase imperceptível, mas que demonstra todo o peso da sua existência numa hora crítica como essa, é que deixa o boxe dentro dos limites da fronteira do esporte.
O advogado de Holyfield não perdeu a chance para nocautear Tyson com um bem estudados jabs do marketing "bom-mocista": lembrou que ele estava ajudando Mandela a educar crianças e que Holyfield não estava interessado na condenação de Tyson, mas no futuro do esporte.
Pelo sim, pelo não, ele está livre de Mike Tyson.

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