São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Humor afasta histeria em "Homens de Preto"

INÁCIO ARAUJO
CRÍTICO DE CINEMA

Existe em "MIB - Homens de Preto", que estréia hoje, um sincero esforço para renovar o vocabulário de um tipo de cinema, que não é o de ficção científica nem o de extraterrestres, mas o das aventuras de efeitos especiais.
Para tanto, a produção providenciou o encontro entre Tommy Lee Jones e Will Smith, representantes de uma secretíssima agência governamental norte-americana, encarregada de ETs.
Jones nos remete, já de início, ao tipo do policial implacável de "O Fugitivo". Smith responde pelo malandro eficiente que lançou em "Independence Day". É um pouco na confluência desses dois filmes que "Homens de Preto" se estabelece.
A originalidade consiste em disseminar os aliens como refugiados do espaço. Essa distensão no tratamento do estrangeiro -diferente do nacionalismo patológico de "Independence Day"- abre espaço para o humor, que será o seu diferencial.
Se o filme não chega a entusiasmar plenamente é por acumular uma série de problemas que talvez se originem no roteiro, mas desembocam na direção.
Sonnenfeld havia tirado o melhor partido de uma atitude liberal ao filmar o segundo "Família Addams" (93): buscava, a partir da crítica ao consumismo, à normalidade, colocar em relevo a hipótese de a vida ser feita de diferenças que constituem a individualidade.
Já em "Homens...", as principais virtudes são negativas: não ser cretino como "Independence Day", não simular suspense onde não há suspense.
Ao mesmo tempo, existe no filme um infantilismo mal resolvido. Esses aliens tão familiares criam um impasse diante do qual o filme não se define.
Vejamos o personagem de Lee Jones. Em "O Fugitivo", ele perseguia um homem com desenvoltura impessoal. Havia uma burrice maquinal na personagem que o tornava fascinante e comovente, pois ele não compreendia a situação. Aqui, ao contrário, ele compreende tudo até antes de acontecer. Em vez de desenvoltura, sofre de tédio cósmico, pois a impessoalidade do personagem (os agentes não têm sequer nome) nunca se converte em solidão.
Seu parceiro, Smith, entra com uma inteligência viva, mas não encontra um contraponto no filme (que parece partilhar de sua descrença nos perigos que enfrenta).
Talvez por isso, o mais interessante de "Homens de Preto" esteja no início, quando se faz a descrição de um mundo inusitado e ao mesmo tempo banal, antes que o conflito se delineie.
Na verdade, a batalha deste filme parece ser contra a histeria desses filmes em que tudo tem de acontecer o tempo todo. Mais tarde, quando o conflito se delineia, o interesse de Barry Sonnenfeld parece se tornar episódico.
Sua ambição -na esteira de Howard Hawks- de fazer um filme sobre a normalidade, embora falando de aliens, se enfraquece. Mas só essa ambição já afasta "Homens de Preto" dos impasses da produção americana atual de grande maquinário.

Filme: Homens de Preto
Produção: EUA, 1997
Direção: Barry Sonnenfeld
Com: Tommy Lee Jones, Will Smith, Linda Fiorentino
Quando: a partir de hoje, nos cines Gazeta, West Plaza 2 e circuito

Texto Anterior: La Casserole une javali e Asterix
Próximo Texto: Quem é quem
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.