São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 1997 |
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'Confissões na Noite' simula erotismo 'moderno'
AUGUSTO MASSI
Enquanto ela está no apartamento dele, em Berlim, Christian está num quarto do Royal Pigalle Hotel, em Paris. Acentuando a distância entre ambos, está a bissexualidade de Frank (Jürgen Vogel). Na véspera de Natal, os personagens colocam em movimento a sua lógica triangular, feita de impasses e desejos. Christian se dá o prazo de oito horas para ter a mulher de volta, Julia toma a decisão de terminar com Frank, este último considera o dia de Natal a data perfeita para declarar seu amor por Julia. Segundo o diretor Dani Levy, o filme foi inspirado em "A Voz Humana", peça de Jean Cocteau, e tinha como horizonte estético ser uma versão européia de "Sexo, Mentiras e Videoteipe" (89). O abismo existente entre a intenção e o resultado corresponde a uma escala que só encontramos dentro da astronomia. "Confissões na Noite" reincide em todos os erros do cinema europeu quando este toma como modelo o cinema americano. Impossível não lembrar de "L'Amore" (48), adaptação do mesmo monólogo de Cocteau levado às telas por Roberto Rossellini, cujo ponto alto é a interpretação antológica de Anna Magnani. Quase 50 anos depois, a dramaticidade e o erotismo de Anna Magnani ao telefone permanecem como uma lição de cinema. As conversas telefônicas entre Frank e Julia, ou entre Christian e Julia, gravitam na esfera das propagandas de tele-sexo. Com relação ao erotismo celebrado pelo cinema americano, restam cacoetes. Não é difícil reencontrar em "Confissões" personagens bizarros que nos lembram dos filmes de David Lynch. É o caso do porteiro (Maurice Lamy), uma aberração angelical, ou da decadente cantora de cabaré (Ingrid Caven). Mas o ponto fraco do filme parece ser a roupagem moderninha de seu erotismo: Frank transa com Julia usando uma máscara de oxigênio, robozinhos carregam mensagens amorosas, Papai Noel se masturba numa cabine telefônica. E toda essa parafernália tecnológica não consegue aumentar a voltagem erótica do filme. "Confissões" é um produto "made in Germany", feito em tempos de globalização. A trilha sonora reforça o desconforto. Há um pouco de tudo: rap, pop, ária. Essa falta de critério contamina a história, que não ata nem desata. Enfim, o filme é decepcionante sob todos os aspectos: não diverte, não faz pensar. Filme: Confissões na Noite Produção: Alemanha/Suíça, 1996 Direção: Dani Levy Com: Maria Schrader, Jürgen Vogel e Mark Schlichter Quando: a partir de hoje, no Espaço Unibanco de Cinema - sala 1 e no Estação Lumière 1 Texto Anterior: Óculos passam das telas para as vitrines Próximo Texto: Reichenbach procura pianista para novo filme Índice |
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