São Paulo, sexta-feira, 11 de julho de 1997
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Oasis vende mais que 'Bíblia' na Inglaterra

DENISE BOBADILHA
ESPECIAL PARA A FOLHA, EM LONDRES

Bastaram o lançamento de um novo single e uma polêmica entrevista para que a banda Oasis voltasse a ser o assunto da semana em seu país natal, a Inglaterra. Os tablóides publicaram e os jornais ditos sérios deram um jeito de estampar bem uma polêmica comparação de Noel Gallagher entre a banda que lidera e Deus.
À pergunta: "Você acredita que o Oasis é mais importante para a juventude de hoje do que Deus?", Noel responde: "Eu tenho de dizer, sem sombra de dúvida, que isso é verdade".
A entrevista com Noel e seu irmão caçula -e vocalista do Oasis- Liam Gallagher ocupa sete páginas do semanário britânico "New Musical Express", que chegou às bancas na quarta-feira.
A pergunta obviamente referia-se à declaração feita por John Lennon no auge da carreira dos Beatles, a famosa "nós somos mais populares que Jesus Cristo". E aproximar Oasis dos Beatles não é invenção da imprensa inglesa -Noel e Liam adoram dizer que só se inspiram neles para tudo o que fazem e fizeram.
Ontem, o jornal "The Guardian" publicou um irritado artigo sobre a polêmica. Mas, usando números para comparação, o "Guardian" concluiu que a banda vende mais -CDs, livros e quinquilharias- do que a "Bíblia" e publicações religiosas no país.
O single "D'You Know What I Mean?", lançado dois dias antes de a polêmica chegar ao público, está alcançando o posto de mais vendido do ano. Os números totais ainda não foram divulgados, mas, em três dias, cerca de 200 mil pessoas o adquiriram. Espera-se que até sábado as vendas ultrapassem as 400 mil cópias.
A revista "Select" deste mês, que saiu na segunda, traz uma edição especial de 30 páginas sobre a banda. Além de tranquilizadoras entrevistas, retoma a carreira dos cinco amigos de Manchester.
E isso é só um pequeno começo. Em agosto, sairá o terceiro álbum do grupo, "Be Here Now", que tem deixado gerentes de lojas de discos de cabelos em pé desde já.
"Ave-Maria"
Fala Noel: "Futebol é mais importante para mim do que religião. Alguns dos popstars de que eu gosto são mais importantes para mim do que Deus. Eu gostaria que nós significássemos mais para as pessoas do que colocar dinheiro em uma cesta de igreja e dizer dez ave-marias no domingo".
Para ele, a superioridade do Oasis frente ao divino não é uma forma de tornar seu grupo um objeto de pregação, mas sim de salvação.
Há um trecho no novo single do Oasis que diz: "Eu encontrei meu Criador e o fiz chorar" ("I met my Maker and I made him cry"). Numa primeira interpretação, a frase foi tomada como uma referência ao Gallagher pai, que abandonou Noel e Liam e tentou reencontrá-los após a fama.
Interpretação errada. O Criador, em letras maiúsculas, dispensa explicações. E onde Noel teria feito com que Ele chorasse? Resposta dada pelo próprio no "NME": "Teria Deus tocado em Knebworth recentemente?". Knebworth é o nome do parque perto de Londres onde a banda tocou em agosto para 250 mil pessoas. O maior encontro de cristãos da Inglaterra, realizado no Natal, reúne cerca de 100 mil pessoas por ano.
Nas entrevistas publicadas no semanário e na "Select", a banda aparece tranquila. Noel provoca várias bandas (sugere brincando que não seria má idéia matar Crispian Mills, o vocalista do Kula Shaker) e elogia suavemente o ex-inimigo das paradas, Blur. "O novo álbum é a melhor coisa que eles já fizeram. É realmente muito bom. Mas eu ainda não gosto deles."
Num aspecto as duas entrevistas se assemelham: os Gallagher mostram nas entrelinhas que a arrogância e o comportamento às vezes desrespeitoso com fãs foram as formas encontradas para driblar as pressões da fama, que, apesar de tudo, os agrada profundamente.
"Isso não irá me destruir", diz Liam na "Select". Ele rejeita a trajetória autodestrutiva de Kurt Cobain (líder do Nirvana que se suicidou em abril de 1994) e abraça as agruras de não conhecer a privacidade. "No fundo, quem quer ser anônimo? Eu fui anônimo por 24 anos", completa Noel no "NME".

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