São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997
Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

É fácil entrar e sair da floresta

IGOR GIELOW
DO ENVIADO ESPECIAL

Por R$ 400,00 por dia, um norte-americano contratou um guia caboclo, alugou uma voadeira (barco de alta velocidade) e se enfiou numa mata 100 km acima de Manaus no começo de março.
Acompanhado por uma brasileiras, ele carregava três caixas prateadas. Depois de três dias de pesquisas, trouxe em uma das caixas duas plantas enormes.
"Ele disse que era para sua coleção particular", resume o guia Marcos Garantido. O sobrenome, apesar de ele dizer que é verdadeiro, deve ser falso -é o "sobrenome" do boi que ganhou o Festival Folclórico de Parintins neste ano.
A "viagem", como classificou o guia de 33 anos, rendeu R$ 500,00. O resto ficou com a agência que o contratou no centro de Manaus.
O Ibama, órgão que deveria coibir a aquisição de espécimes na Amazônia, não tem mais de dez fiscais em Manaus diariamente.
A Polícia Florestal do Amazonas tem efetivo maior, na casa da centena, mas não dá conta dos 1,5 milhão de km2 do Estado.
No centro de Manaus, é possível contratar guias a partir de R$ 300,00 por dia. Com monomotores, o preço sobe até R$ 600,00. Segundo a PF, há cerca de cem pistas clandestinas no Amazonas.
Fora os rios. "Um hidroavião pode voar de países vizinhos, pousar em um afluente, fazer o serviço e voltar", afirma o diretor do Inpa, Ozório Fonseca.
Para ele, o problema também reside no fato de que hoje a biopirataria pode ser feita com canetas.
Explica-se. O pirata está interessado em elementos encontrados na casca de uma árvore. Ele a dissolve e preenche a carga de uma caneta esferográfica.
Chegando em seu laboratório, liofiliza (seca) a solução e recolhe os resíduos sólidos. Que, devidamente estudados, são sintetizados.
Segundo o diretor do Inpa, nada impede que hotéis de selva montem laboratórios para atender seus clientes cientistas.
Ele conta um caso mais radical, ocorrido recentemente no Peru, onde a Polícia Nacional encontrou um barco-laboratório que singrava rios oferecendo suas instalações a cientistas dos EUA.
A Empresa de Turismo do Amazonas informa que controla o chamado turismo receptivo, aquele que leva turistas para o mato.
Três das maiores agências de Manaus foram consultadas pela Folha sobre a possibilidade de contratar um "mateiro".
Nenhuma aceitou o serviço, mas indicou endereço de agências "menores", sem registro oficial, que tinham até tabela de preços.
(IG)

Texto Anterior: Diretor teme protecionismo
Próximo Texto: Projeto concilia pesquisa e ação
Índice


Clique aqui para deixar comentários e sugestões para o ombudsman.


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.