São Paulo, domingo, 13 de julho de 1997 |
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Diretor teme protecionismo
IGOR GIELOW do enviado especial O diretor do Inpa, Ozório Fonseca, tem medo da "histeria xenófoba" que permeia o debate sobre a biodiversidade amazônica. "Temo que uma reserva de mercado científica na Amazônia atrase ainda mais a região", disse.Há 37 anos no Inpa (o órgão tem 43 anos), Fonseca assumiu o cargo em 1995. Segundo adversários internos, ele foi indicado pelo governador Amazonino Mendes (PFL). Leia a seguir trechos de sua entrevista à Folha na última quinta-feira. (IG) * Folha - Como o sr. vê a discussão sobre a biopirataria? Ozório Fonseca - O Inpa surgiu num contexto de resposta à proposta de internacionalização da Amazônia. Recentemente, temos que ter mais cuidado -tanto que não temos acordos na área de biotecnologia e genética. Mas não podemos ser inocentes e achar que não sai nada daqui. Sai, mesmo porque parte das análises é feita no exterior. Folha - Isso não significa risco de vazamento? Fonseca - O empréstimo entre coleções é natural no mundo todo. Biopirataria é assunto de polícia. Institucionalmente isso é muito difícil. A lei é rígida. Folha - Mas o fato de o pesquisador estrangeiro ir para o mato sozinho não facilita as coisas? Fonseca - Não posso pôr um policial atrás dele. Ou o instituto confia no pesquisador associado ou não. Agora, se vem um cara mal-intencionado, e eu não tenho conhecimento, não dá para evitar. Posso dizer que não existe projeto nenhum fora da lei aqui, mas também digo que a legislação precisa ser atualizada. Folha - O sr. teme a internacionalização? Fonseca - Não acredito nisso. O fato é que proibir circulação de material é tolher a pesquisa científica. Muita coisa o Brasil não tem condição de analisar. Estamos diante de um momento difícil, no qual as autoridades precisam determinar o rumo. Temo que uma reserva de mercado científica na Amazônia atrase ainda mais a região. Folha - Há outros riscos? Fonseca - Hoje o grande momento do desenvolvimento amazônico se chama ecoturismo. Dá para evitar que um desses hotéis monte um laboratório para o turista observar a natureza em microscópio? E quem impede que um turista seja um cientista mal-intencionado, que vai à noite no laboratório e retire uma amostra? Folha - O Inpa depende de dinheiro de fora? Fonseca - A agenda total de projetos é de 46, e só 6 são internacionais grandes. Folha - Sim, mas em volume de dinheiro? Fonseca - Não sei quantificar isso. Mas muita coisa vem em forma de equipamentos, substâncias. Folha - Como evitar essa evasão de patrimônio biológico? Fonseca - O Brasil precisa se preparar para uma guerra científica. A única forma de lutar é garantir parcerias simétricas e buscar qualificação. Gastamos R$ 9 milhões no ano passado em qualificação, mas em 43 anos não patenteamos nem dez produtos. Texto Anterior: O debate sobre a biopirataria Próximo Texto: É fácil entrar e sair da floresta Índice |
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